spoiler visualizarFelipe.Dantas 21/03/2021
A minha breve leitura do título não me permitiu tracejar de antemão os caminhos que os autores pretendiam transcorrer. Resultado da transcrição de uma conversa entre Leandro Karnal e Monja Coen, ao discutirem a cultura de paz, os autores tangenciam simplesmente a discussão filosófica mais complexa e de maior resultado prático com que tive contato até o momento.
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Digo ?mais complexa? porque essa discussão perpassa desde o ambiente mais público que existe, pensando aqui em teoria do Estado, até o âmago privado, quando falamos de relações interpessoais, e digo de ?maior resultado prático?, pois praticamente todas as mazelas sociais decorrem de tal discussão. Em termos claros, estamos falando aqui de ética.
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Do ponto de vista dos autores, ou palestrantes, se assim preferir, visto que trata-se de uma transcrição, o caminho da paz resume-se em tolerância. A tolerância, por sua vez, deve se balizar pelo bom-senso e respeito coletivo.
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No entanto, tolerância, bom-senso e respeito mútuo são por si só inócuos. É nesse ponto em que os autores tangenciam o assunto ética (definição do certo e do errado e dos limites a que todos estamos sujeitos), porém não exploram com a devida profundidade. Devemos tolerar o que está errado? Devemos tolerar práticas sociais quando o impacto é prejudicial ao coletivo? Como implementar uma cultura de paz quando grandes decisões precisam ser tomadas (pensando aqui em políticas públicas)?
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Sob essa perspectiva o livro deixa a desejar. [Spoiler Alert] Os autores criticam (40 p.) negativamente as pessoas que, ao descobrirem que a Monja come carne e o Karnal tomou vinho com o Sérgio Moro, passaram a proferir ofensas e dilikes (violência) para ambos, comparando inclusive tais pessoais ao Adolf Hitler que, da mesma forma, sob o pretexto de agir em nome daquilo que acreditava ser correto, agiu com violência. No entanto, como agir quando suas crenças são desafiadas? Óbvio que palavras chulas e agressão física não estão em discussão, mas manifestar sua intolerância com relação a determinado assunto é essencial para evoluirmos. A pergunta que fica, portanto, é: Como evoluímos e mudamos sem conflito de ideias e pensamentos? Sem imposição do certo ou errado? Até quando vamos tolerar a destruição da Amazônia para o pasto e a mineração?
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A discussão ética por traz da cultura de paz passou despercebida pelos autores que se abstiveram de opinar sobre como deveria ser construído o bom-senso e os limites da tolerância. De todo modo, a mensagem central do livro é assertiva. Nós, seres humanos, precisamos com urgência compreender que a paz e a felicidade coletiva são essenciais para perpetuação do nosso DNA.
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Notas mentais: Tentando responder às perguntas retóricas acima, entendo eu que a sociedade, coletivamente, precisa com urgência definir o certo e o errado, o tolerável e o não tolerável e todos os limites e sacrifícios que estão dispostos para que a violência deixe de ser utilizada para atender vontades individuais (pensando aqui no Bolsonaro que utilizou o medo para promover sua candidatura) e passe a ser utilizada, consequentemente com menor frequência, para atender ao bem coletivo.