spoiler visualizarmarina.conte.02 02/03/2023
O livro que me fez amar essa autora
A decisão de começar essa leitura veio antes de sequer ler a sinopse, a capa da edição lançada pela Intrínseca já me encantou e saber que era da mesma autora de "Big little lies" (Pequenas grandes mentiras) certamente contribuiu, pois, embora eu não tenha lido ainda, sei como foi bem sucedido.
Em 2008, Alice sofre um acidente na academia que causa uma perda de memória. Suas últimas lembranças são de 1998, ela está casada com Nick, estão esperando o primeiro bebê que apelidaram de “Passinha”, sua irmã Elisabeth é sua melhor amiga, sua casa é uma bagunça, sua alimentação nada saudável, seu emprego horrível, mas ela está extremamente feliz.
Quando se depara com o presente, Alice descobre que está se divorciando de Nick, que tem três filhos dos quais não se lembra, uma casa que sempre sonhou, um corpo atlético, uma vida social agitada, um relacionamento estremecido com a irmã e um novo interesse romântico.
A narrativa é intercalada entre a história da protagonista, as cartas que a irmã dela escreve ao seu psicólogo e as publicações que a avó das duas faz em seu blog. Enquanto a protagonista descobre ter se tornado uma daquelas pessoas que estão sempre ocupadas, envolvida com eventos de escola e jantares com as outras mães, sua irmã se tornou uma pessoa amarga pelas constantes tentativas de engravidar e, sucessivamente, abortar.
A leitura te prende, principalmente nos momentos em que Alice está se adaptando à nova vida. Confesso que no começo do livro achei as lembranças dela de dez anos antes um pouco cansativas, não me encantei tanto assim pelo Nick de primeira, porque sabia que no presente já não estariam mais juntos.
Contudo, esse contexto foi muito importante, já que em 2008, mesmo sendo uma pessoa completamente diferente, ele acaba cedendo às tentativas de aproximação e auxiliando ela durante o processo de amnésia, confessando os problemas que levaram ao divórcio, o que me fez entender a ligação forte que a personagem tanto descreve em suas lembranças. Além disso, as memórias sobre a primeira gravidez auxiliaram a personagem a lidar com a filha mais velha, que estava constantemente revoltada com os pais.
Uma questão que achei um tanto desnecessária foi a narrativa sob a perspectiva da avó. Embora tenha sido uma ideia engraçada e que nos apresentou uma personagem bem elaborada, ao contrário de Elisabeth, cuja vida contrastava com a da irmã, Frannie não estava tão inserida no cotidiano das netas para ter esse espaço na narrativa. Achei cansativo, são mais de 400 páginas e se eliminassem todas as postagens dela nada sairia de contexto.
O próprio ponto de vista da irmã já foi exaustivo. A abordagem da infertilidade e como isso pode fazer a mulher se sentir descumprindo seu papel foi extremamente pertinente, só que isso se repetiu muitas vezes, ficando em segundo plano na segunda metade do livro, especialmente quando se conhece a personalidade de cada um dos filhos de Alice e todo drama da Gina.
O desfecho da história é satisfatório, mesmo sendo previsível. A conclusão é que a perda de memória fez a protagonista ter uma visão muito mais clara do mundo e me peguei refletindo sobre onde estaríamos hoje sem a memória dos últimos dez anos e como podemos nos esquecer facilmente de pequenas coisas que no passado eram cheias de significado.