Coisas de Mineira 17/04/2020
Myriam tinha seis anos em 2011, quando começaram as manifestações contra o presidente da Síria Bashar-Al-Assad. A menina, que tinha costume de escrever em seu diário, de repente começa a escrever sobre uma rebelião, que não entende, tiroteios e bombardeios. Em “O Diário de Miriam” acompanhamos uma guerra terrível que já deixou meio milhão de pessoas mortas e milhares de refugiados, pelos olhos de uma criança.
Quando a Darkside anunciou o lançamento desse livro eu já fiquei de olho. Afinal, chamou muito a minha atenção o fato de ser uma guerra da atualidade contada pelos olhos de uma criança. Apenas pensei, vai ser algo tocante e foi, apenas não foi da forma que eu imaginei.
“Para mim, da minha infância, só resta isso. Só uma caixinha amassada.”
No início do livro temos um prefácio, escrito para a edição brasileira por Stéphanie Habrich, fundadora do Joca, um jornal para jovens e crianças. Isso, porque a história de Myriam foi contada pela primeira vez neste jornal, que anunciou sobre o lançamento do livro no exterior.
Alunos da EMEF Laerte, após lerem a notícia do lançamento do livro, ficaram comovidos com a história e resolveram enviar cartas ao jornal pedindo para que trouxessem o livro para o Brasil. Foram mais de 200 cartas que foram encaminhadas a diversas editoras, dentre elas a Darkside que publicou a história.
“Papai diz que o presidente americano e o presidente francês querem nos bombardear e guerrear contra a gente. Não entendo porque eles querem nos bombardear ainda mais.”
Então logo após o prefácio, podemos ver algumas das cartas que esses alunos enviaram. Preciso dizer que isso me emocionou e me deu mais esperança para o futuro. Porque cada carta daquela, cada criança que enviou, sentiu empatia por Myriam e sua vida. Logo depois do prefácio, existem as cópias de algumas dessas cartas que foram enviadas.
Tenho que dizer que fico muito feliz pela Darkside ter publicado esse livro, simplesmente porque ela tem um cuidado com as publicações, que esse livro merecia, como por exemplo, o colocar as cartas das crianças. Mas o que me surpreendeu foi que o livro não tenha capa dura. Apesar disso, ela entregou uma edição maravilhosa, como sempre faz.
“A catedral maronita da cidade foi atingida e destruída. Parece que todo o teto caiu. Aqui, até mesmo Deus não tem mais casa.”
O diário começa em junho de 2011, quando a rebelião ainda não tinha começado. Myriam é uma garotinha que mora em Alepo com pai, a mãe e a irmã. Para a garota, a cidade é o seu Éden, cheio de coisas bonitas e onde se sente bem e segura.
Myriam ama estudar e ir para a escola, tem uma melhor amiga chamada Judi e ama a sua família. Quando a revolução começa, os jornais noticiando o que está acontecendo tomam o lugar dos desenhos.
“Antes, achava que os aviões só serviam para viagens, para ir para longe, para levar as pessoas em visitas a países do mundo inteiro. Nunca tinha pensado que aquilo podia transportar bombas.”
A água começa a ser cortada, a energia também, do nada Myriam se vê impedida de ir na escola, de ver sua melhor amiga e de sair na rua. Quando Alepo é invadida, somos espectadores, que através das palavras de uma criança vê um Éden se transformando em um inferno, com bombas, tiros, pessoas morrendo e sendo sequestradas.
“O Diário de Myriam” é uma história real e que é impactante, é o que é retratado em pouco mais de 300 páginas. A leitura não me decepcionou, em nada, e acho que não decepcionará ninguém. Essa é uma leitura que eu recomendo para todos.
“É assim a guerra na Síria. Para além de saber quem são os mocinhos e quem são os bandidos, o que resta é só isso. Mortos que se acumulam, crianças. Asfixiadas ou queimadas vivas, nada lhes foi poupado.”
Por: Ana Elisa Monteiro
Site: www.coisasdemineira.com/o-diario-de-myriam/