Minha Velha Estante 01/07/2019Resenha da Drica“Não é uma escolha quando você não tem liberdade de dizer não. Um 'sim' não tem nenhum valor quando é a única resposta que você pode dar!”
Gente, como é difícil escrever sobre um livro que você ama! Graça e Fúria é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores livros que eu li em 2018! E você vai ver que eu tenho motivos para classifica-lo como tal. Venha ver.
Graça e Fúria é um livro de fantasia, mas o seu tema principal está bem presente na nossa realidade: o papel da mulher na sociedade. Em Viridia vivem as irmãs Serina e Nomi, lá as mulheres servem apenas para servir aos homens. Não podem estudar, não aprendem a ler e não podem se pronunciar em nada.
“A lei proibia que as mulheres lessem. Na verdade, a lei proibia que fizessem praticamente qualquer coisa além de parir, trabalhar em fábricas e limpar a casa de homens ricos. Nomi não conseguia aceitar aquilo.”
Serina é escolhida para ir ao baile do herdeiro, onde ele escolherá suas três primeiras Graças. Ela acredita que sendo escolhida poderá dar uma vida mais confortável à família pobre e poderá cuidar de perto de Nomi, que, muito contra a sua vontade, é a sua aia.
Num daqueles cochilos do destino que ferram com tudo, Nomi se encontra com o herdeiro e seu irmão e, ao confrontá-los, vai mudar tudo. Nomi acaba sendo escolhida Graça no lugar de Serina, que passa a ser sua aia. Mas como miséria pouca é bobagem, as duas irmãs serão pegas com um livro, o que é terminantemente proibido às mulheres, e Serina levará a culpa pela irmã e irá para a prisão.
Nomi terá que atuar como Graça, aprender a ser delicada, a dançar, a falar pouco. Enquanto isso, ela fará de tudo para descobrir o que aconteceu com Serina e para onde ela foi levada. E ela vai despertar o interesse do herdeiro Malachi e do seu irmão Asa.
A partir da separação das duas teremos duas narrativas, e isso é fantástico! Você terá a oportunidade de conhecer, junto com as próprias personagens, que nem imaginam a força que tem, quem elas são verdadeiramente e do que são capazes para cuidar de si próprias e de quem elas amam e de se defenderem de um sistema opressor onde, no fundo, elas são mais temidas do que ignoradas.
Empoderamento e girl power total você encontra aqui! Mas não é aquele de militância de redes sociais não! É empoderamento de entender que as mulheres, quando se tratam com sororidade, são capazes de transformar suas realidades.
“— Minha mãe me criou para nunca confiar em outras mulheres, porque sempre estaríamos competindo por algo. Mas não é verdade. Veja como cuidamos umas das outras aqui. — Ela encontrou Tremor entre o bando. — Nós nos curamos. — Ela olhou para Jacana. — Dividimos comida. — Ela pensou em Petrel. — Morremos umas pelas outras. ”
E isso foi uma das coisas que mais amei no livro. Além da construção da fantasia e todo o seu enredo serem excepcionais, a forma como suas protagonistas atuam é apaixonante. Elas não apenas mulheres badass (aprendi com Renatinha!!!) que tiveram que lutar para sobreviver como Catniss Everdeen (amo!!!). Elas são mulheres que tiveram que se tornar fortes apenas para sobreviver como mulheres. E quando elas te mostram do que são capazes, cada uma do seu jeito, você sente que pode transformar o mundo!
“ – Acho que as mulheres nesta prisão, neste país, vão se rebelar um dia. Meu pai costumava dizer que a opressão não é um estado final. É um peso que se carrega até que não se possa mais. E ele então é removido. Não sem esforço, não sem dor. Mas meu pai acreditava que toda opressão sempre, sempre seria combatida e superada. E não era o único tentando mudar as coisas.”
Não quero comparar Graça e Fúria a nenhum outro livro que fale do mesmo tema ou que tenha mulheres fortes como protagonistas porque acho que ele é um livro único. A forma com Viridia e seu universo de personagens foi construída traz uma singularidade ao texto que o torna uma obra prima, leitura obrigatória em tempos tão difíceis...
“ ... Sempre pensara que não havia valor em resistir, que não adiantaria de nada. Mas sua irmã estava certa. Valia a pena se rebelar, só o ato de resistir podia mudar o mundo. E elas iriam mudar o mundo.”
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