Kennia Santos | @LendoDePijamas 30/08/2018"Se a curiosidade é o que mata os gatos, o orgulho é o que mata os homens."Título: Mensageira da Sorte
Autora: Fernanda Nia
Classificação: 4,25/5
Durante o Carnaval carioca, dentro de uma confusão envolvendo protestos contra a AlCorp -uma corporação que passou a dominar e controlar o preço dos alimentos e medicamentos do país- Sam, em um acidente, se torna uma mensageira temporária no Departamento de Correção da Sorte, uma organização secreta extranatural que possui a função de controlar o nível de sorte\azar na vida das pessoas, de forma que a balança esteja sempre equilibrada.
Para manter esse equilíbrio, os mensageiros do DCS recebem presságios de sorte ou azar e devem avisar os destinatários das consequências, deixando o livre-arbítrio para que o mesmo tome uma atitude ou não com relação ao aviso.
O primeiro cliente de Sam é justamente seu vizinho e colega de classe, Leandro. O garoto é um youtuber em ascensão e o presságio que ela deve entregar envolve algo relacionado a paçocas (??) e isso levará o seu canal ao auge. Mas o que ela não sabe é que ele também é um ávido protestante contra a AlCorp, e não mede esforços para derrubar a corporação corrupta e abusiva, nem que precise usar seu canal para isso.
Mas há algo em Leandro, além da boa aparência e da mania em comum de compartilhar "memes" na internet, que atrai Sam. A garota, ainda lidando com o luto pela morte do próprio pai, possui muito receio de deixar qualquer pessoa se aproximar demais depois de tudo que passou.
"Éramos PHD em memes de internet, e o que a zoeira une, nem o diabo consegue separar." (p.92)
"É mais difícil lidar com a perda em palavras, quando a morte só fala a linguagem da dor. Não existe tradução fiel em português para o sentimento de devastação quando alguém que nós amamos é arrancado brutalmente dos nossos braços. Só quem sente pode entender." (p.102)
"Compartilhamos tanto nas últimas horas, e nos mostramos tão estranhamente semelhantes nas nossas perdas que eu não estava pronta para reerguer a barreira que nos separava como estranhos outra vez." (p.109)
Logo, Sam se vê em um jogo perigoso que envolve intrigas políticas, corrupção e briga pelo poder. Ela embarcará na jornada de tentar desmascarar as pessoas que estão corrompendo o sistema das Justiças -natural e extranatural-, e mesmo sem saber o certo o motivo de o Destino tê-la escolhido como mensageira, mergulha de cabeça em toda a rede de esquemas até então completamente desconhecidas.
"Às vezes, temos que deixar o nosso mundo para trás e embarcar em uma nova jornada. É a única forma de encontrarmos o que o nosso coração mais anseia." (p.255)
Será que mesmo lidando com suas dores, seus sentimentos conflitantes com relação à Leandro, o vínculo cada vez mais sensível com a mãe, Sam vai conseguir fazer com que a balança do Destino se equilibre?
Em "Mensageira da Sorte", Fernanda Nia apresenta um enredo que envolve desde acasos à instabilidade política e caos popular. Com uma escrita cheia de frases reflexivas (na medida) e muito, muito humor.
Os personagens são bem desenvolvidos, cada um com uma história pessoal um tanto densa, e a leitura é incrivelmente proveitosa.
Vou confessar pra vocês que no começo eu não dava muita coisa por esse livro, não. Até a página 150 ele não passava de um livro OK. Mas depois disso o negócio fluiu numa tacada só. Conforme os fatos envolvendo as intrigas principais são expostos, a curiosidade é atiçada, aí já viu, é paulada atrás de paulada.
As únicas questões que devo ressalvar aqui é que, em algumas partes eu careci de detalhes de algumas coisas que eu acreditava ter importância, e também que, fiquei perdida no tempo, percebi alguns furos com relação à localização exata da personagem, mas nada preocupante ou muito frequente.
Fora isso é uma boa leitura, escrita de forma concisa e divertida, levando o leitor desde tensão à diversão.
"Às vezes, pessoas que gostamos vão embora da nossa vida. É normal chorar a sua perda, mas devemos lembrar que, assim como elas nos deixam, outras sempre aparecem mais adiante para nos acompanhar. Pode não ser a mesma coisa, já que nenhuma alma é perfeitamente substituível ao coração, mas é sempre reconfortante saber que, não importa o que aconteça, não precisamos seguir pelo nosso caminho sozinhos. E que quando você cair, em algum lugar sempre vai haver uma mão te oferecendo ajuda para levantar de novo. Sim, eu sei. Alguns tropeções são piores do que os outros. E tem uns que você mesmo precisa se erguer sozinho. Mas sempre, sempre vai haver um jeito de se levantar." (p.410)