jiangslore 11/04/2021
Esse livro é bem popular, e, apesar de eu não ter amado tanto assim, entendo completamente o hype. A premissa é criativa, os personagens são intrigantes, o enredo é ótimo e a escrita é leve. O jeito que a autora permite que seus personagens se coloquem em situações não tão agradáveis ou corretas e que eles tenham sentimentos complexos sobre elas é, provavelmente, uma das coisas mais interessantes sobre o livro. Mas tenho a sensação que o livro não foi tão longe quanto poderia ter ido, e é dessa sensação que as minhas críticas partem.
"Daisy Jones & The Six" conta a história dos artistas de mesmo nome, que fizeram muito sucesso durante os anos 70. O livro é narrado em entrevistas realizadas com os personagens, e, por isso, a autora alerta logo no início que há diferenças nos relatos feitos e que a verdade geralmente está no meio-termo.
E isso nos leva à primeira coisa que não gostei no livro: na minha leitura, não senti que esses conflitos foram tão significativos ou estavam tão presentes quanto a premissa estabelecida pela autora me fez acreditar que estariam. Claro, há diferenças nos relatos, mas a maioria delas é sobre as opiniões dos personagens e não sobre os fatos em si.
Eu esperava sair desse livro sem poder dizer com certeza se certas coisas ocorreram ou não com a banda e com Daisy, mas isso não aconteceu. Sei exatamente quais foram os fatos. As maiores diferenças estavam nas opiniões. E essas diferenças de opinião dizem muito sobre os personagens e tornam a narrativa mais interessante... Mas não tão interessante quanto foi indicado no início que seria.
(Obviamente, a minha opinião sobre isso já parte de uma perspectiva que tenho do que pode ser considerado "verdade" e sobre o que é "opinião", mas nem vou entrar nesse tópico porque não é o foco disso aqui.)
Outro ponto que não gostei tanto foi o fato de que a tensão estabelecida no enredo e a construção de todos os conflitos foram muito melhores do que a resolução deles. Ler esse livro foi quase como subir em uma montanha-russa para, quando chegar ao topo, descobrir que, ao invés de despencar de uma altura de sei-lá-quantos-metros, você pode pegar um elevador seguro e com música ambiente calma para voltar até o chão.
Mas acho que é importante falar que essa sensação não foi com o final do livro em si (que, aviso desde já, porque sei que tem gente que não gosta: é aberto), mas, sim, com a finalização que foi dada aos relatos históricos dos personagens (das coisas que acontecem nos anos 70, não do que eles fazem depois disso). O final do livro, aquela última coisa que a autora conta antes de ir embora, é ótima; e, como quase tudo nesse livro, te deixa feliz e triste ao mesmo tempo. Entretanto, a forma como os conflitos anteriores foram resolvidos parece rápida e definitiva demais.
Por outro lado, gostei bastante dos personagens. Achei que ia passar muito mais raiva por causa deles, porque, pelo que muita gente fala, eles parecem ser super questionáveis. Penso, porém, que eles estavam mais para personagens extremamente humanos do que para pessoas verdadeiramente ruins. Houve alguns momentos em que pensei que tal personagem era chato (Billy e Eddie, essa é principalmente pra vocês), mas sempre tinha na história elementos para entender as perspectivas de todo mundo, mesmo que você não fosse capaz de concordar com elas.
E as relações entre os personagens foram criadas maravilhosamente bem. Não tem uma relação nesse livro que seja unidimensional. Todos os sentimentos são complexos e muito realistas. São os sentimentos que eu teria naquelas situações, ou que eu tenho pelos personagens depois de ler sobre esses eventos? Em muitos casos, não. Mas são sentimentos completamente válidos e coerentes com o que cada personagem representa.
O enredo tem o suficiente de clichê para ser uma história que qualquer pessoa reconhece bem (pensei bastante em "A Star is Born" enquanto lia, e, depois de ler outras resenhas, percebi que não fui a única pessoa que fez essa conexão, já que a atmosfera é parecida, apesar do enredo ser diferente), mas continua tendo o toque de originalidade necessário para fazer com que a leitura seja agradável. O estilo de narração é bem diferente, e acho que foi uma escolha inteligente da autora, porque penso que não seria possível cobrir tantos eventos em um livro tão curto se ele tivesse sido escrito de outra forma.
Por fim (ou uma última coisinha antes de ir embora), acho que é importante destacar que dá para o leitor perceber o talento, a criatividade e o esforço da autora durante a leitura. Então, mesmo não sendo algo que eu tenha amado, acho que é um bom livro. Vale a pena ler e formar sua opinião sobre.