leitoraleticia 02/01/2022
Frio e raso
Escrevi esta resenha pouco depois de ler os agradecimentos da autora, e meu coração se partiu numa mistura de culpa e arrependimento pelo julgamento que fiz durante a leitura. Nas últimas páginas, Luly fala sobre a insegurança, que, inclusive vivo constantemente em relação aos meus poucos escritos, sentidas no processo de criação do livro, sobre ele tê-la ajudado a superar a depressão e sobre o carinho que ela tem por essa história. Eu me conectei com a Luly Trigo ao ler os agradecimentos, sabendo como era sentir o que ela sentia e me imaginando com um livro físico em mãos. Um livro escrito por mim. Mas a verdade é que não me conectei nem um pouco com Zália.
A protagonista é a segunda na linha de sucessão real, sendo o seu irmão mais velho, Victor, o príncipe regente enquanto o rei, debilitado após o AVC, não pode assumir as responsabilidades da coroa. No entanto, após a morte inesperada do herdeiro em um atentado, a princesa apaixonada por fotografia vê sua vida mudar completamente, se tornando algo que ela nunca imaginava viver: o reino está em suas mãos e o peso do mundo, sobre suas costas.
Na trajetória da adolescente como governante, acompanhamos de perto seus relacionamentos, sentimentos, descobertas... Mas a forma como tudo isso é exposto ao leitor simplesmente não me prendeu. As descrições feitas ao longo do livro eram breves e muito vagas, deixando um trabalho confuso e cansativo para a imaginação do leitor terminar. Ou faltavam detalhes concretos, ou faltava a visão subjetiva de Zália sobre a coisa a ser descrita e suas observações, suas emoções, suas lembranças. Eu vivi 435 páginas ao lado da princesa regente, mas ainda não sei quem ela é.
Algo, porém, fica muito claro: Zália é uma garota confusa. Não de uma forma natural para uma adolescente que acabou de perder um ente querido e terá que governar todo um país sem fazer ideia de como começar. Não, para resolver isso ela precisa de menos de três meses. Ela é incrivelmente boa no que faz na política, apesar de estar constantemente se diminuindo e dizendo ser incapaz. Sua confusão se revela mesmo é quando ela tem que resolver problemas adolescentes como dois belos rapazes pelos quais se sente atraída. Um amor do passado insuperável e um homem do presente irresistível, mesmo que um tanto suspeito.
Como o relacionamento dela terminaria em ambos os casos, eu previ nos primeiros capítulos da história (assim como previ outras coisas mais) ?a ideia do triângulo amoroso não colou. Senti que eu devia ter ficado surpresa no final, quando tudo começa a acontecer e a se revelar, mas não havia nada de surpreendente. Esse é outro ponto negativo do livro: sabemos como tudo vai terminar, mas é uma eternidade até chegarmos nas últimas páginas. Mas quando finalmente chegamos, tudo acontece rápido demais, de forma corrida.
Apesar dos pontos negativos, nem tudo é um "mar de espinhos". Ficou muito nítido o país que estava por trás da fictícia Galdino. A lei da aposentadoria, a Resistência, os professores sem salário e diversas outras semelhanças propositais relacionando o reino ao Brasil. Ver como Zália conseguiu resolver tantos problemas em tão pouco tempo nos dá uma esperança e uma vontade de lutar como ela por um país melhor. Nos desperta algo que esteve por muito tempo adormecido: a certeza de que é possível e a vontade de tornar real.