JP_Felix 13/02/2022
Depois de mais de 600 páginas, sou um devorador de livros
O terceiro do que até então é uma trilogia, aqui temos uma obra gigante que é duas vezes o tamanho do primeiro livro. De positivo, não é mais tanto ao que se destacar, segue bem o padrão dos anteriores, como uma boa escrita, bona personagens, boas cenas, boma conceitos e muitos mais pontos que poderíamos passar horas admirando. Não obstante a isso, aqui temos alguns pontos que podem ser questionados.
Primeiramente, o livro, pelo tamanho, tem alguns pontos que o fazem parecer mais vazio que os outros dois. Começa quando vemos que aqui não temos um objeto a vista, nem dos heróis e nem dos vilões. Até boa parte do livro, esperamos as coisas se montarem. Não quer dizer que não haja objetivo para a trama, ela existe. Para Ruff, fazer o mundo verde e bom. Para Zamir, a vingança. Para a Dama de Ferro... Bom, aqui começam alguns pontos problemáticos.
Zamir era o grande vilão até o livro anterior, mas aqui ele foi deixado completamente de lado. Mal aparece, e quando aparece, não tem relevância praticamente nenhuma. E até mesmo tolo, apesar de ser sempre mostrado como um sábia, pois acredita que os filhos de Axia são seus, mas ela quer usá-lo para algo para o qual o requisito é ter o sangue de Ruff. Axia, a Dama de Ferro, não tem um objeto muito bem estabelecido, ela se limita a ter um plano maligno que não aparenta ter morivo além da vilania. Não é incoerente, mas é vazio, e a obsessão dela por Ruff aqui é conflitante com o livro anterior, cujo objetivo era destruí-lo e assolar o mundo, mesmo provando o ponto dos deuses que o mundo não tinha salvação.
O conflito dela com Zamir é estranho, pois ela lhe deu tudo, entregou a vida de todos no mosteiro no primeiro livro e a própria alma no segundo. Ela assume o papel de vilã maior, e tenho o sentimento de que Zamir só ainda está vivo pela limitação de já haver um futuro (no RPG que original o livro) onde ele ainda vive. Outros personagens como Korin e o elfo, o duque Minimus, seu filho (que sequer teve participação, mas era relevante para o arco do pai) e a Memória da floresta alta também ficam muito apagados, pois a trama é grandiosa em proporções astronômicas, e isso ofusca os dramas menores de personagens individuais.
Já deixando claro que nada disso estraga ou atrapalha a experiência, mas que são pontos que particularmente não deixei de notar. No máximo eles incomodam um pouco. A progressão do livro é muito boa, construindo seus conceitos aos poucos e noa deixando no mistério para nós instigar a conhecer aos poucos como os reinos funcionam, quais os planos dos vilões, quais os dramas que Ruff enfrentará, mas acho que as coisas cresceram demais. Onde antes havia o temor do fim do mundo, que já era catastrófico, aqui temos o temor de algo tão mais grandioso que é até um pouco difícil de conceber que, mesmo tendo dragões, bruxos, demônios e seres míticos, tudo isso sema encabeçado por uma humana, Axia.
A adição de novos personagens é mais que bem-vinda, como a pupila de Ruff, os novos vilões, os reinos estrangeiros (apesar de estes aparecerem apenas agora, mesmo com tudo o que aconteceu no livro passado, quer deveria ter gerado mais repercussão), e a maior participação de personagens como o anjo da estrela dourada e do gigante é também mais que bem-vinda. Agora temos uma noção maior de mundo, o mundo que Ruff tem de fazer verde e bom, e também temos as falhas do herói, seus erros, seus fracassos, mas sem deixar de mostrá-lo como o mesmo personagem e realçando o peso sobre seus ombros.
Apesar disso tudo, algumas coisa acabaram não casando muito bem, e aqui é apenas gosto pessoal. Personagens como a filha de um certo personagem só teve importância para suporte para outro personagem, e esse papel é bem previsível quando todos os diálogos envolvendo esse dois personagens são repetidos, sempre chegando ao mesmo ponto. Esse personagem que recebe suporte tem um excelente arco, mas, apesar disso, culmina em um momento que é estranhamente fácil de lidar, sendo até um bocado conveniente e roteirizado demais. Sem dar spoiler, esse personagem consegue fazer algo tão facilmente quanto as pessoas que passaram anos treinando essa habilidade, e a eficácia disso é incoerente, pois já foi tentado antes e não surtiu menor efeito.
Há outras pequenas coisas que podem ser comentadas, e isso é bom, pois diz que um livro tão grande gera muitas discussões, mas, focando apenas no final, o plano desesperado de Ruff é o mais simples e decepcionante que poderia ser. Em meio ao que pareceu ser uma epifania, ele apenas fez algo para que estivesse no lugar certo para o acerto de contas. O final é aberto, e poderia acabar aí mesmo, mas há muitas pontas soltas ainda. Também não foi um gancho surpreendente, pois, depois dos vilões quase conseguirem realizar seu plano, claramente a consequência seria aquela. É um livro que poderia ter fechado a saga, tem tamanho para isso, mas ainda parece que haverá mais, e resta esperar para ver se o próximo fará valer a pena deixar tanta coisa em aberto neste.