Daniel 04/10/2018
Ruff Ghanor: Santo. Rei. Homem.
A ansiedade costuma atrapalhar qualquer pessoa que espera muito de uma obra, seja ela literária, cinematográfica ou de qualquer outra mídia.
Felizmente, o sádico e escatológico Leonel Caldela mais uma vez não decepciona seus leitores.
Nos dias anteriores a leitura deste livro, enquanto relia os dois volumes anteriores, me peguei gritando e xingando os personagens, simplesmente não aceitando que fizessem determinadas coisas. Muito "pior", mesmo sabendo o que acontecia nos livros, por tê-los lido antes, no fundo havia uma esperança tola de que as coisas fossem ser diferentes, e que os personagens não cometeriam novamente os mesmos erros.
É esse tipo de situação que continua permeando mais uma obra de Leonel.
Com personagens cativantes, extremamente humanos e propensos a erros e falhas, que refletem nossa condição humana, não conseguimos não nos apegar a eles, sejam figuras novas ou antigas. Caldela, como o anão Thondin, martela seu texto até que ele emane emoções intensas, que impedem que tudo se torne uma mera leitura monótona, fazendo com que o leitor mergulhe na história e esqueça o mundo de fora. Mas cuidado. Nosso carinhosamente apelidado escatológico e sádico autor fará com que você saia deste mergulho encharcado, seja pelas lágrimas (da alegria do retorno até a dor da perda) ou pelas grandes quantidades de sangue.
O peso de todos os erros de Ruff começa a cobrar seu peso na mentalidade do mais novo rei. Tudo deve ser VERDE e BOM! Mas o valor de novas e velhas amizades se mostra indispensável para que o homem siga em frente, sempre tentando agradar os deuses para fugir de seu destino.
Mais do que uma jornada contra o destino, o livro trata profundamente sobre o peso do tempo. Nossos heróis envelhecem, enfraquecem, e isso pesa sobre todos os mortais. Mas o tempo também traz o esquecimento, de antigas dores, amores, nomes e ressentimentos.
Para os fãs de fantasia, um brilho a mais, pois o universo de Ghanor se expande ainda mais, com a revelação de novos reinos, culturas e conceitos. Um prato cheio para qualquer RPGista, ou outros amantes da criação de mundos.
Vez ou outra algumas passagens do livro parecem perder o ritmo, ficando corridas demais e detalhando muito por cima uma coisa ou outra, mas nada que atrapalhe o andamento da história, e plenamente compreensível diante das 640 páginas finais do volume.
Por fim, O melhor amigo do homem tem seu fim, deixando-nos com um peso no coração, enganchando-nos para os acontecimentos futuros, repletos de dúvidas para o que o futuro do santo de pés descalços guarda para os leitores.
Torço para que o próximo volume saia o quanto antes, pois não há vício maior do que uma boa história, sempre nos deixando com um gosto de "quero mais".