Larissagris 20/08/2022A FILHA DO REI DO PÂNTANO (KAREN DIONNE)? Houve um tempo em que eu não teria a menor ideia de como responder a essa pergunta. Minha opinião sobre o tempo não vai mudá-lo, então por que alguém se importaria com o que eu acho? Agora sei que não preciso responder, que esse é só um exemplo do que Stephen chama de "conversa à toa", conversa só para falar alguma coisa, um preenchimento de espaço que não pretende comunicar nada de importância ou valor. Que é como pessoas que não se conhecem direito falam umas com as outras. Ainda não entendo bem por que isso é melhor que o silêncio. (Pág. 11)
? Só há uma maneira de consertar isso. Uma maneira de ter minha família de volta. Preciso capturar meu pai. É o único jeito de provar a Stephen que nada nem ninguém é mais importante para mim do que ele e as meninas. (Pág. 38)
? Posso entender agora que a razão de a minha mãe ser indiferente a mim é que nunca criou um vínculo comigo. Ela era muito nova, ficou muito doente nos dias logo depois que nasci, estava assustada, solitária e fechada demais em sua própria dor e sofrimento para me ver. Às vezes, quando um bebê nasce em circunstâncias semelhantes, isso dá à mãe uma razão para seguir em frente. Não foi o que aconteceu comigo. Graças a Deus eu tinha meu pai. (Pág. 46)
? Essa não será a primeira vez que vou caçar meu pai, mas farei o que estiver ao meu alcance para garantir que seja a última. (Pág. 54)
? Psicopatas como ele sabem ser muito carismáticos. Eu o imagino conversando com os guardas, descobrindo quais eram os interesses deles, envolvendo-os pouco a pouco. Do mesmo jeito que convenceu minha mãe a confiar nele dizendo que estava procurando seu cachorro. Do mesmo jeito que usou meus interesses quando eu era criança para me voltar contra a minha mãe de forma tão sutil e completa que precisei de anos de terapia para entender que ela se importava comigo. (Pág. 78)
? Por fim, entendi que seguir rastros é como ler. Os sinais são palavras. É só conectá-los em frases e eles contam uma história sobre um acontecimento na vida do animal que passou por ali. (Pág. 81)
? Agora que li relatos de meninas que foram raptadas e mantidas presas, entendo mais sobre os fatores psicológicos envolvidos. Algo se quebra dentro da mente e da vontade de uma pessoa que foi privada de autonomia. Por mais que gostemos de pensar que lutaríamos como linces se estivéssemos em situação parecida, as chances são de que acabássemos desistindo. Provavelmente em pouco tempo. (Pág. 95)
? Quando uma pessoa está em uma posição em que, quanto mais ela luta, mais duramente é castigada, não demora muito para aprender a fazer exatamente o que seu captor quer. Isso não é síndrome de Estocolmo; os psicólogos chamam de desamparo aprendido. Se uma pessoa raptada acreditar que, se fizer o que o sequestrador manda, ele não vai mais castigá-la, ou até mesmo lhe dará uma recompensa, como um cobertor ou um pouco de comida, ela o fará, por mais repugnante ou degradante que seja. Se o raptor estiver disposto a infligir dor, o processo anda muito mais rápido. Depois de um tempo, por mais que deseje, a vítima nem sequer tenta escapar. (Pág. 95)
? Eu amava meu pai, mas ao mesmo tempo o culpava por minha profunda infelicidade e dificuldade de me encaixar. Havia tanta coisa sobre o mundo lá fora que ele deveria ter me ensinado. (Pág. 98)
? Penso em minha mãe, morta e esquecida por quase todos. Penso em minhas filhas. Penso em meu marido, sozinho, esperando por mim. Eu vou encontrar meu pai. Vou capturá-lo. Vou devolvê-lo à prisão e obrigá-lo a pagar por tudo o que fez. (Pág. 104)
? Stephen é a única pessoa na face da terra que me escolheu. Que me ama não porque é sua obrigação, mas porque quer. O presente que o universo me deu por ter sobrevivido ao meu passado. (Pág. 118)
? Mas uma coisa que aprendi desde que deixei o pântano é que cada pessoa é diferente. O que uma pessoa deve fazer outra não consegue. (Pág. 123)
? Às vezes a pessoa acha que quer uma coisa, mas, depois que consegue, descobre que não era bem aquilo que queria. Foi o que aconteceu comigo quando saí do pântano. Achei que poderia construir uma vida nova para mim, ser feliz. Eu era inteligente, jovem, ansiosa para adotar o mundo exterior, ávida para aprender. O problema era que as pessoas não estavam igualmente ansiosas para me adotar. (Pág. 136)
? A importância do que havia realizado era quase indescritível. Eu tive medo, mas ele não me impediu de fazer o que queria. Essa era a lição que meu pai queria que eu aprendesse. (Pág. 142)
? Na maior parte do tempo, quando lembro o modo como fui criada, consigo ver as coisas com bastante objetividade. Sim, eu era a filha de uma jovem raptada com seu raptor. Por doze anos, vivi praticamente sem ver ou falar com nenhuma outra pessoa além dos meus pais. Posto nesses termos, parece terrível. Mas essas eram as cartas que a vida tinha me dado, e era com elas que eu precisava jogar se quisesse seguir em frente [...] (Pág. 147)
? Mas, enquanto eu estava ali parada junto à cerca, olhando para o fantasma do meu passado do outro lado da cachoeira, meu coração se partiu pela pobre criança selvagem que eu fui. Tão ignorante do mundo exterior, apesar de suas preciosas National Geographics. Uma criança que não sabia que uma bola pulava, ou que, quando as pessoas se cumprimentavam com as mãos estendidas, isso se chamava aperto de mãos, porque as mãos de fato se apertavam. Que não sabia que as pessoas tinham vozes diferentes, porque nunca tinha ouvido alguém falar, além de seu pai e sua mãe. Que não conhecia nada da cultura moderna, ou de música popular, ou de tecnologia. Que se escondeu da primeira oportunidade de contato com o mundo exterior, porque seu pai lhe disse para fazer isso. (Pág. 148)
? Às vezes eu achava que a única razão de meu pai criar tantas regras é proibições era para mostrar que podia. (Pág. 159)
? No dia seguinte, meu pai perguntou se eu tinha aprendido a lição. Eu lhe disse que sim. Mas não acho que a lição que aprendi foi a que ele queria me ensinar. (Pág. 164)
? Meu pai não tem ideia de que vou levar a melhor sobre ele outra vez. Ele não pode imaginar nenhum resultado diferente do que planejou, porque, em seu universo, em que ele é o sol e todo o resto orbita à sua volta, as coisas só podem acontecer da maneira como ele decretar. Só que eu não sou mais a criança adoradora que ele manipulava e controlava. Pensar assim é seu segundo erro. Vou encontrá-lo e vou detê-lo. Já o levei para a prisão uma vez; posso fazer isso de novo. (Pág. 167)
? "Só quando a última árvore for cortada e o último rio tiver sido envenenado e o último peixe for pescado, o homem branco entenderá que não pode comer dinheiro." (Pág. 168)
? O típico narcisista. O que quer que aconteça, a culpa é sempre da outra pessoa. (Pág. 201)
? Matar uma pessoa muda a gente. Não importa quantos animais se tenha abatido a tiro, pegado em armadilhas, esfolado, estripado, comido. Matar uma pessoa é diferente. Depois que se tira a vida de um ser humano, nunca mais se é o mesmo. (Pág. 234)
? Se eu pudesse saber de tudo isso antes de acontecer, teria feito diferente? Claro. Mas é preciso aceitar a responsabilidade por suas decisões, mesmo quando elas não têm o resultado que se esperava. (Pág. 235)
? Coisas ruins acontecem. Aviões caem, trens descarrilam, pessoas morrem enchentes, terremotos e tornados. Motos de neve se perdem. Cachorros levam tiros. E meninas são raptadas. (Pág. 235)
? Mas lembranças não têm a ver com fatos. Às vezes, elas têm a ver com sentimentos. (Pág. 239)
? As palavras finais do conto de fadas da minha mãe. Penso em como o conto me disse o que eu precisava fazer. Como a história da minha mãe acabou por salvar nós duas. Como meu pai pode ser a razão de eu existir, mas a minha mãe é a razão de eu estar viva. (Pág. 243)