rayray 22/02/2024
Homens não amam mulheres.
Fiz de tudo para dar quatro estrelas a esse, por pura implicância, mas não teve jeito. Margaret Atwood foi impecável na construção do drama e concretização de uma ficção científica. Eu nunca vi algo parecido.
Aqui há um mundo em que o poder está, oficialmente e irrevogavelmente, todo nas mãos dos homens mas, não somente pela narrativa ser caracterizada na voz de uma mulher, isso não mostra grandiosidade algum. Na verdade, creio que em algum momento é até mesmo possível sentir pena deles. Poor Things.
Eu jamais utilizaria a palavra insuficiência, visto que se dá a algo que não se tem o suficiente para satisfazer seus anseios. Em O Conto da Aia, os homens têm em demasiado, mas desde quando o que vem fácil foi bom? Quer dizer, não que em algum momento seja difícil para eles. Mas a questão é que, sempre baseados em dogmas e regras, conquistaram tudo por completo e, ainda assim, eram as mulheres que precisavam tomar as rédeas em diversos momentos enquanto eles, na calada da noite, fugiam para repetir os mesmos hábitos que sempre possuíram. Tiraram o protagonismo por completo das mulheres apenas na teoria, na prática nada sabiam.
É quase patético quando tentam reproduzir os antigos rituais de sedução. Para mim, os comandantes foram todos coadjuvantes nessa narrativa.
Ao mesmo tempo, Atwood consegue transparecer tão perfeitamente bem os anseios, os desejos, medos e brilhantismo das mulheres que chega a ser assustador, fascinante.
Me surpreendeu de muitas maneiras diferentes e o capítulo final é quase como se Atwood tivesse se esquecido completamente que se tratava de uma Ficção Científica e precisasse deixar claro depois de absorver o leitor completamente na colossal e assustadora experiência que é ser mulher.
Afinal, não é como se estivesse há anos luz da realidade.