Ana 12/05/2020
Platonismo puro.
Gustav von Aschenbach, um escritor cheio de prestígio, famoso em sua terra natal, que tem inclusive um título de nobreza, nunca se deu a excessos, sempre se manteve dentro da sobriedade; mas de repente, do alto de seus cinquenta anos de idade resolve viajar, como quem toma uma decisão importante para a própria saúde. Acaba indo parar em Veneza, em um hotel chique, onde também se hospeda a família de Tadzio, lindo jovem polonês por quem ele se apaixona perdida e platonicamente, pois no rapaz ele vê realizado o ideal de beleza clássica tão perseguida em suas obras. A maneira a qual Thomas Mann descreve a paixão de Gustav por Tadzio é bem delicada, exaltando todo o platonismo da situação. Ora, Tadzio tem 14 anos, e se esse amor de fato se realizasse, o protagonista Gustav estaria em péssimos lençóis, e viria abaixo todo o seu prestígio.
Não consegui ver de fato pedofilia nesse romance; não há sexo aqui, Gustav se contenta apenas em admirar seu amado, como quem idolatra um deus pagão. Pode ser que eu esteja enganada, mas a situação de Gustav é a situação de muitas pessoas que querem amar alguém impossível e acabam se autodestruindo pelo desejo. Gustav, no auge da sua paixão, passa a seguir todos os passos do ídolo do seu coração, indo inclusive parar em ruas suspeitas e empestadas de Veneza; para piorar, a cidade está sofrendo de epidemia de cólera, e muitos dos turistas do hotel onde Gustav e a família de Tadzio se hospedaram estão indo embora; o escritor teme que Tadzio parta e teme nunca mais ver o amado, por isso sempre que pode, vai vê-lo. É um belo romance, muito delicado, embora seja polêmico sim. Só me arrependo de não ter lido esse livro antes.
A quarentena serviu pra alguma coisa. Recomendo.