Flavio Assunção 04/05/2010Barbara é uma universitária comum. Rala para completar os estudos e sonha com um futuro promissor. Para ganhar uma grana extra nas férias de verão, resolve aceitar o convite dos Adams, que estão saindo de férias, para cuidar de seus dois adoráveis filhos: Cindy e Bobby. As coisas fluíam de uma forma tranquila até o momento em que ela acorda na madrugada completamente amarrada na cama e amordaçada. Dá-se início ao terror. O nome do jogo é Liberdade 5, onde cinco pré-adolescente/adolescentes querem descontar todo ódio, medo e angustia que sentem em Barbara. Além de Cindy e Bobby, os outros três amigos que formam o Liberdade 5 são Paul, Dianne e John.
A obra é grotesca, profunda e chocante. Com uma narrativa desesperadora do ponto de vista de Barbara, sentimos na pele todas as atrocidades e humilhações que a personagem recebe. O ponto de vista dos garotos também se faz presente, nos mostrando todos os desejos, medos, crenças, necessidades e anseios que os fizeram iniciar aquele jogo.
Um dos pontos positivos do livro é deixar claro a personalidade de cada um dos jovens: Bobby, de 13 anos, é o mais bonzinho do grupo. Embora tenha sido ele o responsável por drogar Barbara e prendê-la, não imaginava as proporções que o jogo atingiria. Apesar de sua vontade de voltar atrás e libertar Barbara, sente-se receoso por medo de uma represália por parte dos demais; Cindy, a irmã de Bobby, de 10 anos, é a mais bobinha da turma. Apesar de achar que tudo é uma grande brincadeira, aos poucos começa a ser influenciada e ter sua consciência moldada para o mal; Dianne, de 17 anos, é a "cabeça" do grupo. Ela é quem dita as regras e informa qual o próximo passo a seguir. De natureza fria e calculista, todas as ações do grupo se tornam fáceis com ela no comando; Paul, o irmão de Dianne, possui 13 anos. Quem o olha não imagina as perversidades que se passam em sua cabeça, que com o tempo percebemos o quão doentia é; e John, de 16 anos, que procura aproveitar a situação para se conhecer, conhecer seu corpo e descobrir o prazer às custas de Barbara.
Outro ponto positivo é que o livro foge aos clichês do gênero. Tudo é conduzido de uma forma bem direcionada, onde todos os pormenores se encaixam e levam a trama a um final chocante e que pode nos deixar diversas noites pensando a respeito. Mas, por outro lado, o final é um tanto abrupto. A autora, que descreveu muitas coisas ao longo da estória, esqueceu disso no momento crucial do livro, parecendo que aquela parte final - que não posso falar do que se trata para não estragar - fosse mais simples do que o resto das coisas que os garotos fizeram até ali.
Acreditem: o livro tem uma qualidade grande. Vale ressaltar que não é para qualquer um ler. Os mais caretas ou com a cabeça fechada para as idéias podem achar pavoroso, até porque o terror psicológico é maior do que o terror propriamente dito. A questão, é que possui uma essência diferente, avassoladora, cruel. É um livro que nos remete à realidade da vida. E se existe uma frase que caberia perfeitamente para descrever o livro, é aquela de um título de um filme que concorreu ao Oscar recentemente: Onde os Fracos - ou os Bons - Não Tem Vez.