Felipe 31/08/2022
O Rei dos Vampiros
A leitura de Drácula não estava nos meus planos, mas recebi um convite para participar de um grupo para fazer a leitura em conjunto. Sou duplamente grato pelo convite! Primeiro porque o livro escrito por Bran Stoker é um grande clássico e a edição da Darkside é maravilhosa e acrescenta conteúdo relevante que explica a importância do livro na época e com o passar do tempo. Em segundo lugar, por conhecer pessoas com a mesma paixão que a minha, ser bem recebido e tratado já como um colega dentro do grupo, o sentimento de pertencer é algo muito importante.
E assim falo de um ponto do livro que pra mim se destacou tanto quanto o Conde, o poder da amizade, do amor, da coragem e da devoção, pois, se há algo capaz de enfrentar as trevas e combater sem trégua até poderes sobrenaturais, são esses sentimentos que criam a base para a férrea determinação.Mas, estou me adiantando um pouco.
A introdução ao Conde Drácula é certamente uma das melhores partes do livro. Acompanhamos o jovem advogado Jonathan Harker numa viagem até a Transilvânia para atender a um rico cliente que deseja mudar-se para Londres. O caminho até o castelo dá o tom de que há algo errado, desde pessoas assustadas e supersticiosas, tentativas de evitar que o advogado siga naquela direção até a chegada de um cocheiro absurdamente forte com o aparente dom de controlar lobos.
Stoker tem um dom com as palavras que é maravilhoso, a forma como descreve o ambiente desolado, como deixa claro o sentimento de solidão, a crescente desconfiança virando medo e desespero, como vai aos poucos apresentando Drácula e revelando seus poderes, sabe trabalhar a curiosidade do leitor ao mesmo tempo em que o deixa apreensivo de continuar.
A mudança de cenário que ocorre é muito bem-vinda, pois torna a ameaça mais real, especialmente na época de lançamento. O monstro deixa um lugar isolado e passa a atacar no coração da civilização. Matérias de jornais e diários dos personagens constroem muito bem a narrativa e adicionam realismo à chegada de Drácula. E estar em meio a população de uma cidade moderna adiciona uma vantagem aos planos do inteligente Conde, vampiros são só um mito, quem vai acreditar que um deles (o maior de todos?) existe e está atacando?
Os próprios protagonistas demoram a acreditar e apenas quando são apresentadas provas irrefutáveis é que começam a agir e tomar providências para enfrentar esse mal que pretende se instalar na Inglaterra.
O embate entre o bem e o mal é muito bem definido, não existem tons de cinza aqui. Os heróis são de boa índole, trabalhadores, honrados e extremamente leais, a amizade é pura e o amor inabalável, amor que é responsável por alguns dos melhores trechos, seja a amizade entre Lucy e Mina, a devoção entre Mina e Jonathan ou o companheirismo do grupo sendo forjado no momento de necessidade. O antagonista é a personificação do mal, é egoísta, ardiloso, manipulador e covarde.
Infelizmente algumas coisas me incomodaram mais para o final do livro, como o fato de todos os protagonistas, tão inteligentes até aquele momento, deixarem algo óbvio passar para gerar um problema que adiciona tensão e dramaticidade mais para o final. E o próprio confronto final que se alonga demais para acabar muito rápido...
Falando agora dos extras, são um toque especial e certamente merecem ser lidos, entender o contexto no lançamento e a forma como Drácula tornou-se o modelo de Vampiro é muito interessante.
Recomendo a todos os leitores acima dos 18 anos, não por ter cenas pesadas, mas eu acredito que clássicos requerem uma certa vivência para serem realmente apreciados e compreendidos. Leitores de terror, horror, suspense e investigação terão um prato cheio! Mesmo quem gosta de drama e romance terá o que saborear e talvez quem não é ligado nesse tipo de livro deva ler apenas de manhã e manter umas flores de alho por perto, só por garantia.
Apesar de todos os anos decorridos desde seu lançamento e das mudanças ocorridas com os Vampiros na cultura pop desde então, Drácula continua atrás de sangue novo e pronto para adentrar o imaginário de cada geração sem perder a potência e a nobreza.