Dani do Book Galaxy
20/04/2020Uma homenagem para o Sherlock Holmes, mas com cara de fanficAntes que eu desperte olhares tortos para mim por causa da expressão "cara de fanfic", já explico! Fanfics são histórias alternativas baseadas em histórias de outros autores, certo? Há uma liberdade artística de autores amadores usando personagens e universos criados por outros. Eu mesma já escrevi muita fanfic na minha vida. Pois bem; senti que "Um estudo em Charlotte" foi mais como uma fanfic criada por Brittany Cavallaro como uma forma de homenagear a obra de Conan Doyle e honrar o detetive mais célebre de todos os tempos do que um romance completo e íntegro em todos os seus elementos.
Quando fiquei sabendo sobre a ideia da autora de trazer descendentes de Sherlock Holmes e Watson e fazê-los interagir nos dias atuais, fiquei extremamente empolgada. Quando vi que a descendente de Holmes era uma garota, então! Todos os elementos estavam ali para um romance inteligente e interessante.
Na verdade, eu esperava uma inspiração mais ou menos como vemos no Dr. House MD (sim, o Dr. House da série): em que você capta as sutis sementinhas do Holmes em atitudes e trejeitos da personagem, como o vício do doutor em Vicodin, sua perna machucada, seu amor por música e, claro, seu fiel escudeiro Wilson.
Porém, o que acontece no romance de Cavallaro é que essa apropriação Holmes/Watson é tão óbvia que ficou, para mim, extremamente forçado. Começando pela Charlotte, a descendente de Holmes, que, obviamente, é uma garota prodígio enigmática, problemática e extremamente inteligente (nada surpreendente, até aí. Estamos falando de uma descendente de Holmes, afinal).
Mas, não bastasse essas obviedades, Charlotte TAMBÉM ajudou a Scotland Yard a desvendar um roubo de diamantes quando tinha só 10 anos. TAMBÉM é viciada em drogas pesadas. E, claro, é linda de morrer com toda essa inteligência e charme britânico.
Eu acho que teria me surpreendido muito mais - ou teria amado mais a personagem - se ela fosse DIFERENTE de Holmes, mesmo sendo sua descendente. Imagina uma Holmes blogueirinha - mas com o QI de 180. Acho que daria mais dimensão para a personagem, não sei. Estou só divagando aqui.
A outra personagem central no livro - na verdade, o protagonista - é o descendente de Watson, August. Assim como nos livros de Conan Doyle, Watson narra a história em primeira pessoa e é OBCECADO por Holmes. Pela Charlotte Holmes, aliás.
De fato, aqui temos um Watson que endeusa Holmes de uma forma bastante irritante. Depois de um tempo, eu já não aguentava mais essa paixonite adolescente dele.
Acho que a autora quis, assim como o criador original de Holmes e Watson fazia em seus romances, delegar a este segundo um papel de mero observador, que sempre acaba subestimando Holmes para, no fim, ser surpreendido (e salvo) pelo amigo.
Mais uma vez, sem surpresa nenhuma, é isso o que a autora entrega.
Na verdade, a história de dois adolescentes bancando os detetives só se tornou ligeiramente interessante para mim justamente por causa da inspiração em Sherlock Holmes, porque fora isso... não me agradou tanto.
Além das obviedades, achei tudo bastante forçado. De fato, bem coisa de fanfic mesmo.
Depois dos 70%, o livro ficou bem chato e eu estava literalmente me forçando a terminar.
Dito todos esses pontos, é uma leitura divertida, sobretudo para quem quer algo leve para se distrair. Só não espere nenhum mistério digno de Conan Doyle, e guarde sua paciência para uns dramas adolescentes bem bobinhos.
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