Gi 12/04/2019
Livro lindo, Ideia interessante, pobre execução, erros pavorosos e feminismo deturpado
Certo, eu acho difícil eu realmente odiaaaar um livro, porque eu sou muito gentil e sempre procuro ver as coisas positivas. Vamos aos fatos.
Não sei se foi um erro de tradução ou de construção do livro, mas para mim, alguns erros foram imperdoáveis e quebraram TOTALMENTE o envolvimento do mundo e do cenário. Erros ainda no começo do livro, ou seja,tornou muito difícil, quase impossível, eu entrar totalmente na imersão.
Página 21 Linha 29
"das folhagens em torno de seus TORNOZELOS e pulsos" -> Sereia com tornozelo, tá.
Página 29 Linha 2
Muirgen vai cantar para o pai "Puxo o AR..." -> Não se passa embaixo da água? É sério isso?
Página 86 Linha 7
Crianças sereias se referindo ao Mar de Sombras "Minha mãe disse que o AR de lá é puro veneno" -> De novo? Qual a dificuldade em descrever a água, o ambiente aquático, já que é o tema central dessa coisa toda? Faltou tanta criatividade assim para construir uma ambientação ou a tradução foi tão errônea assim?
Páginas 148 e 149
Muirgen antes "Começo a rir de todas as piadas de Oliver". Na página seguinte "Outras garotas conseguem rir". -> Literalmente na página seguinte, quase na mesma altura. Como assim tem tanto erro de continuidade assim? De novo, será que na tradução era pra ser "sorrir" e depoir "rir"? Mais uma vez, ou a ambientação foi feita muito porcamente, se contradizendo o tempo todo por extrema falta de cuidado ou a tradução está pavorosa.
Alguns outros erros menores eu deixaria passar normalmente, mas como era erro atrás de erro, eles pegaram muito mais a minha atenção do que deviam. Como quando houve o corte da língua e foi dito "a carne e os tendões se separando", só que língua não tem tendão... perdoável, mas eu já tava um pouco irritada.
Sobre o feminismo... o livro tentou ser feminista, com isso eu dei crédito. No começo o machismo da própria Muirgen era TÃO insuportável que eu não conseguia acreditar como que as autoras achavam que esse podia ser um livro feminista. Comecei a entender o raciocínio dela pelas falas da avó, que sabia que era tudo muito errado, mas muito perigoso tentar mudar, e pelas próprias percepções tardias da Muirgen sobre o Oliver e como o mundo trata as mulheres. SÓ QUE. Fez parecer que, aos 15 anos, ao perceber como o mundo é machista e injusto, você automaticamente se livra de todos esses dogmas e regras e se joga de cabeça numa vida feminista e autossuficiente. Mas toda e qualquer mulher um pouco mais velha sabe que leva tempo, alguns anos, até você conseguir atingir esse ápice. É injusto dizer para meninas de 15 anos que vão ler esse livro que só de você perceber você já vai estar forte. Não vai. Você vai se pegar tentando agradar a masculinidade até muito tempo depois disso. E me preocupa se elas não podem pensar que existe algo de errado consigo mesmas por pensar assim, mesmo já tendo notado que é machismo e que querem mais de suas vidas. Leva tempo, leva sororidade, leva experiência, para algumas, até terapia, pra poder se elevar e ficar a cima disso. E ainda assim, você vai ter recaídas, vai buscar aprovação de homens, vai se curvar a costumes. Essas últimas páginas em que a Muirgen se transformou foi de um exagero meio cômico, como se tentando salvar o final do livro. Era muito mais preferível que essa construção tivesse sido mostrada desde o momento que pisou em terra. Esse final com exagero de poder, exagero de raiva, exagero de vingança, uma raiva que explodiu do nada de uma garota fraca que só sabia sentir medo. Isso podia ter sido deixado para um segundo livro, em que percebêssemos a evolução dessa menina.
Por último, se você não entende a premissa do livro, você vai achar a Muirgen detestável. Eu entendi e ainda assim achei ela burra e egoísta.
--Enfiar uma faca no coração de um garoto que não te ama é passível de perdão.
-Condenar à morte uma garota porque ela é sua "rival" e amor do garoto que você VIU uma vez (não falou, não tocou, não fez nada, VIU) e diz que ama.
-Ter ciúmes da garota morta que você condenou à morte.
-Chamar um garoto de 21 anos, de luto por inúmeras pessoas, de irresponsável e fraco... ele tem 21 anos pelo amor de Deus, não se espera nada mais de uma pessoa dessa idade que tenha perdido o pai e a namorada.
Enfim, ideia boa que poderia ter sido original, mesmo que caísse como releitura, mas que foi fraca nos objetivos e na construção. Se tiver um segundo eu vou ler, no entanto, ver se a autora evolui como escritora (e porque o livro é lindo e eu amo livros lindos).
A edição é maravilhosa, com a capa e tudo o mais, mas parece um livro amador de blog da internet de 10 anos atrás, mas com aparência de profissional.