Tuts 18/11/2022Lugar de falaJá havia lido outro livro da autora, há uns dois anos, ?Pequeno manual antirracista? e gostei bastante da leitura e do que me acrescentou como ser humano.
Gostei mais ainda deste livro, ?Lugar de fala?. A ideia de comprar ele e ler veio por dois motivos : primeiro porque eu já havia outro lido da autora e gostei muito,e o segundo foi porque eu tinha um certo preconceito com o conceito ?lugar de fala?,não vou negar.
Antes de ler esse livro eu entendia que esse era um conceito criado para calar pessoas em discussões e fazer com que somente a pessoa que sofre determinado preconceito possa falar daquele assunto. No livro,Djamila rompe com essa ideia preconcebida,apresentando uma concepção muito mais abrangente longe desse simplismo lógico.
A autora antes de falar sobre lugar de fala de maneira propriamente dita,traça um histórico das mulheres negras para mostrar que quando se pensa no feminismo,vê-se que as pautas que predominaram eram as que atendiam aos interesses das mulheres brancas,preterindo às mulheres negraa que não tinham a mesma condição social e vivências das anteriores.
Djamila quer mostrar, trazendo várias concepções de distintos autores e autoras sobre o tema, que os grupos socialmente oprimidos sempre eram vistos como ?O outro?, ?aquele que é diferente? do dominante. As mulheres negras então,seriam ?o outro do outro?, excluídas mais ainda pelo sistema hegemônico.
Dessa maneira,a escritora delineia esse perfil social,de maneira exitosa e com muito embasamento. Sobre o lugar de fala,a autora também se baseia bastante em muita coisa para romper com a percepção limitada,que era a que eu tinha até pouco tempo. Em suma,Djamila explica que o lugar de fala que é a pessoa tem constitui a localização do grupo social em que ela está inserida. Ou seja,uma mulher branca por exemplo vai ter o lugar de fala nas condições de ser branca(privilegiada pelo sistema),e na de ser mulher(oprimida pelo sistema),o que vai possibilitar uma ótica distinta se for comparada às outras categorias.
Uma outra ideia interessante é a de que o lugar de fala não é propriamente da pessoa,e sim do grupo onde ela está inserida. Uma mulher negra não fala somente sobre as suas vivências pessoais,apesar destas também serem importantes para a construção da identidade,mas também está contida dentro de um grupo social que foi historicamente marcado pelo silenciamento e pela opressão. No caso da mulher negra é o maior nível,pois além da opressão por ser mulher,existe a opressão por ser negra.
A autora aborda várias outras perspectivas interessantes ao decorrer do livro. De forma geral,eu gostei muito e considero uma leitura essencial para quem busca conhecimentos nesses assuntos. Vê-se também que apesar de ser um livro curto ele possui muitas referências e embasamento teórico de outros autores,além de dados e pesquisa. Vale muito a leitura.