Thiago Duarte 14/06/2024
A vingativa ferida não cicatrizada
Se antes eu não conseguia elencar o meu top 1 entre Jantar Secreto e Suicidas, por motivos de afeição, a leitura de Uma Mulher no Escuro conseguiu ocupar tal lugar em disparada. Confesso que posso estar me precipitando em afirmar que esse é o melhor livro de Raphael Montes, pois, até o momento, só tive o prazer de ler apenas esses três. Mas Uma Mulher no Escuro, na minha opinião, é o livro que me deixou boquiaberto e muito curioso a cada página que eu lia. Os plot twists são amarrados de uma forma que, cada vez que eu pensava estar resolvendo, os mistérios tomavam outras proporções que iam em desencontro das minhas ideias. Tá aí um livro que fez jus ao prêmio Jabuti. Além do mais, foi gratificante fazer a leitura conjunta com minha amiga, pois assim pudemos fazer uma discussão bem enriquecedora.
Esse livro conta o drama de Victória, uma mulher que, depois de vinte anos, tenta levar uma vida normal, se não fosse o seu passado obscuro. Aos quatro anos de idade, Vic presenciou o brutal assassinato de sua família. Não obstante, o assassino ainda humilhou os mortos pichando o rosto deles de preto. Já adulta, percebemos que essa ferida nunca foi cicatrizada acometendo a moça à traumas e pesadelos que a impedem de confiar e de se relacionar com outras pessoas.
Em meio a essa vida conturbada, Vic conviverá com três personagens: seu amigo Arroz, o qual ela encontrou pela internet; o psiquiatra Max quem vai acompanhar ela e Georges um rapaz misterioso que começará a se envolver romanticamente com a protagonista. Raphael Montes fez tudo arquitetado de forma tão perfeita que o leitor, quando fica à parte desses três personagens, começa a especular que um dos três possa ser o tal criminoso pichador que veio para aterrorizar mais uma vez a vida da nossa heroína.
Para mim, o fôlego da história se dá não só quando conhecemos esses três rapazes, mas também por Vic começar a cavoucar o seu passado, através de um diário que recebe do criminoso, descobrindo uma parente que ela não conhecia e a aura negra que cerca a sua família. Percebemos que por trás dos crimes do pichador, há uma série de motivações das mais hediondas possíveis que envolvem perda da infância, vícios em masturbação e parafilias. Não, não estou aqui para defender o assassino, muito menos fazer juízo de valor. Acontece que a Literatura nos permite imergir nas camadas mais profundas das construções de seus personagens que ao mesmo passo que repudiamos o que ele faz, também entendemos o porquê de seu sadismo em vingança.