ELB 05/08/2019
Eu fiz já fiz uma resenha aqui para o blog de um livro desse autor – Um banquete para Hitler – achei extremamente bem escrito e você pode achar a resenha aqui. Sendo assim eu esperava com ansiedade pelo próximo.
Nesse livro, V. S. Alexander segue a base do primeiro que escreveu e usa fatos históricos e tece sua historia de ficção em cima desses fatos, mais uma vez também as mulheres são as protagonistas, o que entrega a preocupação do autor com o universo feminino e o seu apoio a causas feministas, ressaltando também nesse livro o excesso de poder do patriarcado e da igreja sobre as mulheres.
Para entender a história é necessário entender que existiam lavanderias espalhadas pela Europa desde os meados de 1700 até o ano de 1993, que funcionavam a pleno vapor lavando a roupas das famílias que se dispunham a pagar, as roupas eram lavadas, alvejadas, cerzidas se necessário, engomadas e passadas e então entregue as famílias. Quem fazia esse serviço? As mulheres jovens que caiam em perdição, as jovens pecadoras que ganhavam o nome de Madalenas nessas instituições clericais cristãs comandadas por freiras. O lucro ficava para a igreja e as madalenas faziam todo o trabalho supervisionadas pelas freiras e castigadas fisicamente e psicologicamente tudo em nome do amor cristão para que se regenerassem.
A história que resenho hoje não se passa em 1800 e por isso as informações seriam poucas, época mais patriarcal, seria mais condizente coma historia... mas não, ela se passa em 1962, já existia rádio, televisão, jornal, faculdades, mas a mão de aço da igreja ainda era muito forte em determinadas partes da Europa. E o que faziam essas meninas para serem madalenas? Por vezes nada, elas apenas tinham a culpa de serem muito bonitas e por isso ‘tentarem’ os homens com sua visão, ou eram envolvidas em intrigas, ou ainda eram mães solteiras, vítimas de estupro ou não. Eram mulheres que caíam em má fama e por isso deveriam encontrar nesse trabalho forçado a redenção de seus pecados.
Assim, três jovens de 16 anos de diferentes áreas de Dublin, se encontram vítimas desses sistema. O pecado de Tiernan nascida na parte rica de Dublin é ser bonita demais e tentar um padre com a sua beleza, sem se insinuar nem nada, o padre resolve contar a seu superior, que conta ao pai da moça que ela é uma perdida, pois seduz padres e o pai define assim o destino de Tiernan entregando a moça as madres. A segunda jovem é Nora, nascida na parte pobre de Dublin, tem o pecado de ser muito liberal para a época e ser vista pela mãe em uma posição comprometedora com um rapaz muito canalha, que a julga e conta ao pai que determina seu futuro; e por último Lea, nascida na parte rural, perde sua mãe e seu padrasto não tendo como lhe sustentar a entrega as irmãs.
O objetivo do convento é quebrar o espírito dessas pecadoras através de muitos trabalhos e castigos, para que elas se arrependam e assim achem salvação. Ao entrarem as jovens são destituídas de seus nomes e recebem nomes de santas, os cabelos lhe são cortados, todos os objetos pessoais retirados e devem se enquadrar em um regime de trabalhos forçados e uma alimentação insossa e pouco nutritiva. Não podem sair nunca mais do convento a não ser que um parente lhes busque.
As três se unem planejando sair dali, Lea é a única que não se importa de ficar no convento aonde recebe um trabalho que ama e menos cansativo pois tem o dom para as artes e cópia livros, as outras duas, trabalham ativamente na lavanderia, Nora o dia inteiro e Tiernan meio período pois a tarde trabalha com bordados. As meninas fazem de tudo para escapar, Nora é a primeira a fugir, mas não se dá bem sem perspectivas de abrigo e vida lá fora, é recapturada, tenta assegurar sua liberdade com sexo e assim perde sua virgindade e ainda volta grávida; Tiernan é a segunda a fugir e também acaba por ser recapturada, o livro segue assim, a contar as desventuras das meninas e tem um final realístico e não de romance.
Muito bem escrito, com forte crítica a igreja e ao patriarcado, baseado em fatos reais, levanta mais uma das polêmicas que a igreja luta por esconder e expõe mais uma das injustiças que muitas mulheres sofreram, simplesmente por terem nascido mulheres e serem sempre julgadas pela sociedade.
Achei que o escritor desenvolveu bem as personagens tanto das madres com suas variações de caráter e dedicação, quanto das garotas madalenas e suas nuances de personalidade. Foi possível ver a evolução da escrita do autor, nesse livro, ele se empenha em três protagonistas em um universo preenchido de mulheres e explora ao máximo cada sentimento, de revolta, tristeza, resignação e dor.
Achei o livro muito bom por revelar mais uma faceta do mundo feminino e indico sobretudo para uma ampliação da realidade das mulheres e para entenderem a busca por direitos iguais.
site: http://www.everylittlebook.com.br/2019/07/resenha-as-garotas-madalenas-quem.html