Mika 10/05/2023
Reflexões de tirar lágrimas da alma
De modo geral, a escrita de Jarid é bem construída e fluida, intercalando contos com narrações em 1° pessoa e 3° pessoa. Também há a presença de muitas metáforas e ironia nas palavras da autora, trazendo um ar mais leve em meio aos temas tratados nos contos.
Vale destacar que cada história neste livro apresenta mulheres em idades variadas, com profissões diferentes e cotidianos totalmente únicos, incrementando a diversidade no texto. Além disso, sua escrita é voltada especificamente para o psicológico e os pensamentos das personagens, construindo-as através de seus desejos, medos, memórias de um passado próximo ou distante, ou também no presente, nos interesses e na visão de mundo, tornam-as tão humanas e complexas em pouquíssimas páginas.
O diferencial em quase todos os contos, exceto ?Marrom-Escuro, Marrom-Claro?, é a ausência de adjetivos explícitos sobre a etnia e demais características específicas das personagens, como feição do rosto e medidas corporais. Abrindo a possibilidade do leitor imaginar, de forma levemente guiada, o perfil do protagonista naquela história.
Voltando-se para os assuntos transmitidos, Jarid busca exemplificar e abordar diversos problemas sociais presente no Brasil atual, como machismo e violência doméstica, no conto ?Gesso?, racismo, em ?Marrom-Escuro, Marrom-Claro?, homofobia, em ?Gilete para Peito?, solidão, abandono, pobreza, que inclusive está presente em praticamente todo livro, depressão, desejo cinerário, dentre outros.
Vale ressaltar que a religião está bastante presente no livro, seja na construção da personagem, relatando sua crença e visão de mundo, ou através do local onde acontece a história, como a igreja, construindo e contextualizando a mensagem que a autora quer passar ao leitor. Como os contos: ?Gesso? e ?Santa com Base Marcada?.