Egberto Vital 07/10/2022
Mais uma leitura desse ano e que me veio como indicação de uma ex-aluna. Fiquei pensando: poderia ter lido antes.
A cordelista @jaridarraes estreia no gênero conto com "Redemoinho em dia quente", uma coletâneas de narrativas que se desdobram por meio de um ethos polifônico, há aqui diversas vozes de mulheres que reverberam múltiplas facetas do feminino, mulheres brasileiras, nordestinas, cearenses, mulheres do Cariri, até então invisibilizadas pela literatura nacional, mas que agora se vêm representadas na obra de Arraes.
Jarid é crua, pontual, densa, sintética e crível em sua narrativa, que flerta com o realismo fantástico, dialoga com a fantasia, acerta na literatura de crítica social, desenha caminhos e imagens que narram o cotidiano de mulheres comuns, mas diferentes entre si, de mulheres que se desprendem dos interditos religiosos e patriarcais, que trazem denúncias importantes acerca de violência doméstica e pressupostos estruturais e socio-históricos acerca do que é ser mulher.
As personagens de Jarid Arraes são encadeamento do processo do tornar-se mulher, para além do nascer mulher, aqui a mulher não é o Outro, ela é Um também. Seguimos um percurso de um processo de individuação de todos esses sujeitos em um só, cada uma delas pode ser lida com uma parcela da experiência vicária do ser mulher, e isso a autora faz com segurança e domínio.
Destaque para os contos "Sacola", "Mulher de moto", "Cachorro de Quintal", "Os fatos dos gatos", "Gesso", "Não tem onça na serra" e "Olhos de Cacimba". Indico demais essa leitura. Gostei tanto que já comprei o romance "Corpo Desfeito", também da autora.
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