Dani do Book Galaxy 10/11/2019Uma leitura confortável e com uma mensagem bacana[A fórmula da patricinha anti-heroína]
Em “Confidências de uma ex-popular”, a Ray traz uma fórmula que já vimos se repetir algumas vezes, principalmente em livros do gênero romance teen: a protagonista anti-heroína, que é introduzida na história como arrogante e intratável, mas vai se desenvolvendo ao longo do livro e mostrando seu lado frágil e humano.
Então, temos Renata Vincenzo, nossa patricinha de 17 anos, nascida na elite paulistana, milionária e acostumada com a vida fácil que todo o dinheiro do mundo podre comprar. Como era de se esperar, a atitude da Renata é detestável na maior parte do tempo.
Apesar de Renata ser construída embasada no clichê da patricinha rica e mimada, me incomodava um pouco aquela fórmula da garota que, na frente dos colegas, se “faz de burra” para ser cool, ao passo em que se esconde na biblioteca para ler livros, porque é uma intelectual em segredo.
Já está um pouco batido esse traço de personagem que se faz de durona na frente dos outros, mas secretamente ama livros, né? 😒 Acho que não tem problema nenhum em ser uma víbora arrasadora de corações e que gosta de Tolkien.
Seria meu sonho ler um livro teen em que as “Poderosas” do colégio gostam de ler e arrasam nas aulas de literatura, enquanto não deixam de frequentar as festas e pegar os garotos populares? 💁🏻♀️
[Um cenário que permite infinita possibilidades]
O cenário onde acompanhamos Renata em “Confidências de uma ex-popular” é um internato religioso no interior de São Paulo. Um ambiente como este permite uma maior liberdade para o desenvolvimento da história, afinal, um colégio interno é perfeito para a autora trabalhar todas as personagens, suas interações e relacionamentos fora da sala de aula.
Inclusive, me recordo agora de várias fan fics que li durante a adolescência onde os autores encaixaram meus personagens preferidos em colégios internos também, que propicia um ambiente controlado onde eles podem interagir.
Ora essa, Harry Potter se passa em um colégio interno e é maravilhoso, não é mesmo?
[Altos e baixos das personagens]
Além de Renata, a autora nos apresenta um punhado de personagens que passamos a conhecer durante um semestre letivo no colégio Interno Nossa Senhora da Misericórdia: Lívia, Mirella, Guilherme, Gabriel, a professora Trenetim.
Apesar de ter criado bastante empatia por alguns personagens de “Confidências de uma ex-popular“, senti que outros mereciam um pouco mais de atenção durante a história. Era como estivessem servindo apenas de pano de fundo para os acontecimentos que circundavam a protagonista. Uma dessas personagens foi Mirella, que de repente passa a ter uma importância maior na história, mas não foi introduzida de forma a me fazer realmente me importar com ela.
Por outro lado, achei Guilherme um charme, e gostaria de saber mais sobre a vida de Gabriel e Lívia. Talvez tenha ficado muito para minha imaginação, mas isso nem sempre é negativo.
Gostei muito da professora Trenetim, que desempenha um papel importante como a única adulta que de fato é importante na trama e serve como figura de inspiração e sanidade, que inspira Renata e os outros adolescentes.
Ah! E uma estrelinha dourada ✨ para a Ray por não enfiar na história nenhuma antagonista feminina criada só para brigar por homem. Acho lamentável esse tipo de coisa, não apenas por degradar as personagens femininas, mas também porque situações assim sempre ficam extremamente forçadas – e me incomodam de verdade.
[A delícia do “e agora?”]
A história de Renata Vincenzo poderia se limitar à sua evolução como personagem fútil e arrogante para uma pessoa melhor, empática e madura. Porém, Ray não parou por aí, e nos ofereceu nessa história um mistério que circunda a demissão de uma professora.
Dou muitos pontos para a Ray por construir uma história leve, que toca em muitos pontos importantes e me deixou com uma vontade imensa de continuar lendo, sedenta para desvendar os mistérios. Eu sempre finalizava uma página imaginando o que iria acontecer nos próximos capítulos e como as coisas iriam se resolver.
Uma das coisas que mais gosto em livros (de qualquer gênero) é chegar em um ponto em que aparentemente não há volta – o clássico “E agora?”, uma situação extremamente difícil, cabeluda, daquelas que parece que não há esperança. Porque, no fundo, nós sabemos que aquela situação irá se resolver de alguma forma no livro, e eu fico extremamente curiosa para saber como.
Fico feliz em dizer que em “Confidências de uma ex-popular”, soltei o famigerado “E agora?!” uma dúzia de vezes. Minha curiosidade foi aguçada, e não foi pouco!
Cheguei ao fim de “Confidências de uma ex-popular” com o coração aquecido por aquele clichê confortável do “dinheiro não compra felicidade”, de que a vida não vale a pena se não houver amor, mesmo se for uma vida abastada e cheia de luxos.
Também me senti relaxada após uma leitura agradável, divertida e que me rendeu uma ótima distração. Só senti que o final se arrastou um pouco. Após o ápice, a finalização da história de Renata e seus amigos acabou levando mais tempo do que precisava.
Porém, uma das coisas que mais marcou neste livro foi uma das mensagens que apreendemos só no final. Quando somos jovens, costumamos pensar que o colegial foi “a melhor época de nossas vidas”, que as amizades e amores vão durar para sempre… Mal sabemos que aquilo é apenas o começo. A vida está literalmente começando.
site:
https://bookgalaxy.com.br/confidencias-de-uma-ex-popular-ray-tavares-resenha/