Bruno.Rafael 11/12/2023Sentimentos duplos sobre esse mangáAo final, Punpun estava um cara pervertido, sádico, não dava para criar empatia com ele, MAS, ele sofreu tanto por questões familiares, amorosas e sociais. Pois é, Punpun nos faz sentir emoções negativas sobre ele, ao mesmo tempo que sabemos todo o sofrimento pelo qual ele passou para se transformar nessa pessoa disfuncional, e aí entendemos um pouco as motivações dele, mas é justificável até que ponto? É uma dualidade de sensações sobre ele a todo momento.
O autor, ao longo de todo o mangá, fez dualidades para mostrar aspectos diferentes, causas e consequências. A única dualidade que quase não se vê é a constante desgraça da vida dos personagens. Raros são os momentos de felicidade de Punpun, mesmo assim é difícil criar empatia com esse protagonista, assim como com todo os outros personagens, com exceção da Sachi Nanjou, que mesmo com todos os defeitos dela, ainda é a personalidade mais simpática do mangá. E um pouco de empatia também pode ser atribuído à mãe de Punpun no seu momento de redenção. Fora isso, difícil. Mas era para ser assim, pelo menos é a sensação que o autor parece deixar. A própria Sachi parece ser um Punpun que não se deixou abater. E aí surge o questionamento se Punpun poderia tomar atitudes na sua vida para modifica-la, assim como fez Sachi. Mas cada pessoa é singular. E a história de vida, (e acrescento a hereditariedade) de cada pessoa vai moldar o adulto que ele se tornará. Isso vale também para a Aiko, que passou por problemas semelhantes a de Punpun, mas mesmo assim tinha algumas opiniões diferentes dele.
Mesmo sabendo as causas que moldaram e transformaram os personagens ao longo dos volumes, ainda é difícil julga-los. Difícil dizer se tal atitude era a certa a se fazer ou se deveria ter feito diferente, ou se não havia opções de escolha, ou se qualquer escolha resultava na mesma conclusão. Mas a vida é assim, muitas vezes não sabemos as consequências dos nossos atos até vermos o resultado. O pior, é que muitas vezes pequenos atos que parecem inofensivos podem resultar em tragédias futuras. O bater de asas de uma borboleta na América pode virar uma tempestade do outro lado do oceano? Bem certo que não, mas isso talvez possa valer para as ações humanas envolvendo emoções. Principalmente emoções em relações familiares. Várias pequenas ações negativas na infância e adolescência podem gerar um adulto depressivo, para citar só um adjetivo.
No final melancólico de Punpun, ainda me veio a dualidade: um sentimento de desprezo “Que coitado, ainda continua a chorar” versus um sentimento de esperança “Caramba, que vida difícil da 🤬 #$%!& , ainda bem que pelo menos agora tem amigos em quem se apoiar, a vida vai melhorar”.
Boa noite Punpun nos oferece muitas discussões interessantes, mas pelo excesso de carga negativa do mangá, a sensação final pende mais pelo negativo do que pelo positivo, apesar de que são debates necessários na nossa sociedade atual. Enfim, os sentimentos dúbios sobre esse mangá vai perdurar por um bom tempo.