MariMeireles14 10/01/2024
Sutil
Quando li A Casa dos Espíritos, alimentei um amor e uma ligação verdadeira à escrita de Isabel Allende. Isso, inevitavelmente, me levou a buscar mais e mais da sua literatura, a reconhecer seu talento majestoso de usar palavras para contar a vida. O ponto é que, como diz na contracapa da edição de 2019, essa obra representa uma cascata de histórias caindo diante do leitor, vívidas, apaixonadas e humanas.
Por isso, conhecer a trajetória não apenas de Eva, como também dos demais personagens, me permitiu aprender sobre as emoções humanas, os rumos inesperados e as condições sociais duras, próprias da história um país da América Latina. A parte mais valiosa dessa obra, feita por inúmeras camadas, é o fato de existir uma clara representação da fidelidade, da lealdade, do acolhimento e do incentivo gerado pela busca da sobrevivência individual e coletiva.
De modo sutil, Isabel nos ensina a viver o presente, a escrever página por página, cada dia de uma vez, assim como fazia também Clara, mas diante de uma outra perspectiva, tão doce e gentil quanto.
?Não obstante, no decorrer daquelas horas procurei livrar-me da languidez das recordações e conseguir a frieza indispensável para revisar o passado e fazer um inventário das minhas possibilidades. Até então vivera às ordens de outras pessoas, faminta de afeto, sem outro futuro além do dia de amanhã e sem mais fortuna do que minhas histórias. Até minha mãe era uma sombra efêmera, que eu precisava desenhar todo dia, para não perdê-la nos labirintos da memória? (Página 195)