L. B. Böer 18/07/2023
Tudo será o mesmo de sempre, só que estarei mais silencioso
Primeiro devo explicações do porquê de uma nota tão baixa pra esse livro tão espetacular, e o mesmo seria o seguinte: a edição.
Eu teria avaliado em 4 ou 4,5/5 não fosse a falta de notas de tradução e edição, visto que muitos termos em francês foram mantidos, e que ao meu ver eram bem importantes para a história.
Ademais, não há outras críticas a se fazer.
Esse foi o meu primeiro contato com Baldwin, e digo que foi certeiro. Essa história me fez refletir muito sobre tantos aspectos, que vão desde construções raciais e sexuais, até misoginia e a hipocrisia social.
É uma obra tão completa que só quem tem contato com ela entende sua complexidade. Ela causa raiva com alguns diálogos extremamente preconceituosos dos personagens, que são repletos de machismo, etarismo, elitismo, e por vezes transfobia; deslumbramento com passagens tão belas e poéticas de um estilo tão próprio de Baldwin; e tristeza pelo destino desses seres tão miseráveis que carregam tantas características do que é um ser humano.
Destaquei tantos excertos do livro, mas o meu favorito com certeza foi um dos mais emblemáticos da obra: ?quase não consigo descrever aquele quarto. Ele passou a ser, de certo modo, todos os quartos em que eu já havia estado, e todos os quartos em que eu vier a estar daqui em diante vão me lembrar do quarto de Giovanni. Na verdade, não fiquei muito tempo nele - nos conhecemos antes de começar a primavera, e saí de lá durante o verão -, mas assim mesmo tenho a sensação de que passei toda uma existência naquele quarto. Ali a vida parecia transcorrer debaixo d'água, como já disse, e é certo que ali sofri uma transformação oceânica?.
Como dito, Baldwin é poético, e tudo o que é descrito aqui é extremamente significativo. Li no posfácio da edição (?James Baldwin e os desafios da (des)classificação?) sobre como o autor foi criticado por parte do movimento negro, e por toda uma sociedade americana conservadora, numa época (que infelizmente ainda se perpetua) em que pessoas pretas precisavam fazer arte conforme os padrões elitizados caucasianos.
Achei curioso quando Hélio Menezes (autor de tal análise da obra) abordou que indiretamente, essa é sim uma obra crítica às raízes racistas da nossa sociedade.
Não darei spoilers, mas depois de ler o posfácio, achei Baldwin ainda mais genial.
Sinto que ele se tornará um dos meus autores favoritos, e não posso evitar sentir certa empolgação para ler o resto de sua obra.