Anderson Tiago 22/06/2014[RESENHA] Bento - André ViancoDesde o meu primeiro contato com a literatura de André Vianco, com Os Sete, me tornei um fã inveterado. Devorei a sua continuação, O Sétimo, com entusiasmo e, a partir desse ponto, segui a leitura de sua obra com O Senhor da Chuva e O Turno da Noite, todos ambientados no mesmo cenário e contando uma história linear.
Minha primeira aventura fora do universo de Os Sete veio com o lançamento de A Noite Maldita, livro mais recente do autor. Se eu já não fosse fã, teria me tornado com esse que é a obra mais madura lançada por ele até esta data. André Vianco te coloca dentro da história e te envolve psicologicamente com os dramas vividos pelos personagens.
Nesse ponto, tomei um caminho inverso ao mais indicado, uma vez que A Noite Maldita vem para elucidar as origens dos eventos que resultaram na trilogia formada pelos livros Bento, Bruxa Tereza (lançado anteriormente com o nome O Vampiro-Rei Vol.1) e Cantarzo (ou Vampiro-Rei Vol.2). É bom deixar claro que a leitura pode ser iniciada através de Bento ou de A Noite Maldita sem qualquer prejuízo ao entendimento, porém nessa resenha abordaremos apenas o primeiro.
Bento foi lançado em 2003 pela editora Novo Século e, apesar de abordar também o tema vampírico utilizado em Os Sete, traz algo de novo para o gênero no âmbito nacional. A história traz um futuro pós-apocalíptico, onde homens e vampiros dividem o mundo, obrigando os seres-humanos a se esconderem em verdadeiras fortalezas durante as horas de escuridão e a se adaptarem para resistir às tentativas vampíricas de se apossarem dos corpos dos adormecidos, pessoas que caíram em sono profundo na noite em que tudo começou... o que eles chamam de Noite Maldita.
É nesse contexto que somos apresentados a Lucas, um recém-desperto que se descobre pertencente a uma classe especial de guerreiros. Os Bentos, como são conhecidos, são guerreiros sagrados que ao confrontarem os vampiros, são acometidos de uma fúria sanguinária, lutando até o fim de suas forças ou até que todos os malditos estejam mortos. Como se isso não fosse o suficiente, além de fazer parte dessa casta, Lucas ainda é mais especial, pois se trata do trigésimo Bento, aquele que segundo a profecia irá acabar com a guerra e salvará a humanidade dos sugadores de sangue. O protagonista e o leitor vão descobrindo juntos que nada mais é como já havia sido um dia e que mesmo unidos por um ideal comum, os seres humanos ainda conservam os seus defeitos e ambições.
O cenário ajuda bastante na ambientação da história, mesmo se tratando de um Brasil totalmente modificado. Uma vez que a humanidade foi reduzida de maneira drástica demograficamente falando, a natureza reclamou aquilo que tinha lhe sido tomado e encheu de verde a paisagem brasileira, enquanto as grandes capitais se tornaram verdadeiros ninhos de vampiros. O enredo se desenvolve em grande parte no estado de São Paulo, mas também somos levados numa viagem por outros estados brasileiros.
A narração em terceira pessoa segue principalmente os passos de Lucas, porém há espaço para que outros personagens desenvolvam sua participação na saga. Até os vampiros tem a sua voz na narrativa, algo que segue a linha contemporânea da literatura de fantasia.
A única ressalva que faço em relação a Bento, são alguns personagens caricatos por demais, principalmente o Bispo, que encarna um nordestino estereotipado e desconectado da real figura de um nordestino de verdade. Porém, esse defeito parece ter sido corrigido com a evolução do autor, tanto que em A Noite Maldita nem percebemos esses pequenos deslizes.
Em resumo, Bento é um excelente livro que reúne em sua fórmula dois gêneros em alta hoje em dia: o mito do vampiro e a distopia. Vale a pena a leitura!
Resenha assinada por mim para o site INtocados.
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