Felipe Duco 22/11/2017
Foram horas e mais horas agradáveis... apesar de tudo
Melancia já tava na minha estante fazia um ano, tinha comprado ele numa super promoção, resolvi que agora era a hora dele.
Marian Keyes vai contar pra gente a história da Claire (na verdade é a própria Claire que vai contar a sua jornada) que foi largada pelo marido no dia que deu a luz à sua primeira filha. Sem rumo, ela sai da Inglaterra, onde vive, e volta para a casa dos pais, na Irlanda tentando lidar com o choque de ter sido abandonada com um bebê.
Obs: Acredito que esse seja o máximo que devem falar pra quem vai ler o livro. Eu fiquei com um ódio tremendo das orelhas do livro e todas as sinopses que você encontra por aí pela internet, porque todas elas são recheadas de spoilers desagradáveis. Pensa comigo: falar na sinopse um evento que vai acontecer na página 380 não é um spoiler violento, gente. Deixo vocês com esse questionamento.
O livro foi uma surpresa, ele não é nada do que promete de antemão. A capa, o título, o gênero, nada disso diz nada sobre a história, em grande parte, pesada e muito triste. Quando Claire volta pra casa dos pais, os primeiros dois meses são terríveis. Ela sofre, mas sofre tanto que é ao longo das descrições infelizes e soturnas do passar dos dias que a gente realmente tem uma noção clara do tamanho da perturbação da menina. Esse drama das 100 primeiras páginas mais ou menos me agradaram bastante, a profundidade com que a Marian Keyes estava disposta a passar foi formidável. Quando a nossa protagonista começa a se recuperar e a história vai caminhando pro seu propósito, digamos assim, a coisa começa a ficar um pouco estranha. A própria narradora diz pra gente num certo ponto, algo do tipo: “se você está esperando um romance água-com- açúcar, vá procurar outro livro.” Diante dessa afirmação eu pensei que estaria seguro, tomei como uma garantia que a autora se preocuparia em não me inundar com clichês, trechos piegas, diálogos melosos sem sentido algum. Entretanto... isso foi uma decepção nesse sentido. Principalmente porque ela me disse que não faria isso.
A narrativa cai no estilo romance meloso (Bianca, Sabrina, Julia), o amor patético e platônico como centro da terra e responsável por curar todos os males, além de diversos parágrafos descrevendo o corpo masculino e suas partes lindas, perfeitas e afrodisíacas.
Outra reclamação que vejo que é comum em relação à Melancia (e eu espero muito que os próximos livros da autora não sejam assim) são os detalhes extensos em assuntos não tão necessários assim. Mano do céu! São muitos parágrafos em devaneios que poderiam não estar ali. Muitas vezes, por exemplo, num diálogo, entre uma fala e outra, temos quase uma página inteira de reflexão em relação ao que acabou de ser dito ou uma lembrança (cheia de detalhes) que aquela conversa remeteu.
É sempre bom lembrar de é um livro de estreia e isso faz os incômodos não serem tão irritantes assim.
Contudo, não joguei o livro na fogueira não.
É divertido (principalmente no começo), é profundo (ninguém pode acusar Melancia de não ser um livro profundo), achei muito bem escrito, a construção individual dos personagens é muito boa, a gente sabe quem tá falando antes que seja dito quem é. Foram horas e mais horas agradáveis, apesar de tudo, que passei com Marian Keyes e saí dessa leitura com outro livro dela comprado já.
Ansioso pra ver como essa moça se sai com mais bagagem literária.