gleicepcouto 20/06/2011Uma Melancia aguada e sem gostoMelancia é o primeiro livro de Marian Keys, escritora irlandesa, que já coleciona diversos sucessos no currículo como Férias!, Sushi, Casório?! e É Agora... Ou Nunca, dentre outros, publicados pela editora Bertrand. Suas obras já foram traduzidas para mais de 32 idiomas e sempre se destacaram nas listas dos mais vendidos, chegando a 22 milhões de exemplares ao redor do mundo.
Fui a última do meu círculo de amizades feminina a ler Melancia, que virou assunto em várias conversas do grupo. Confesso que o comprei para não me sentir tão outsider. O gênero chick-list - o qual a autora é a grande representante da atualidade - nunca me atraiu muito e eu não sabia bem o porquê. Melancia me tirou essa dúvida.
Claire leva um pé na bunda do marido 24 horas após ter dado a luz à filha do casal. Motivo: James estava apaixonado pela vizinha do andar de baixo (também casada), com quem mantinha um caso há 6 meses. O mundo da protagonista vira do avesso. Ela já até percebia o distanciamento do marido, mas associava ao fato de estar grávida e com hormônios descontrolados. Pensou que, após o parto, tudo voltaria a ser como antes: um casal apaixonado e feliz.
Não sabendo lidar com a situação sozinha, Claire volta para a casa dos pais, que junto com suas irmãs, formam uma família excêntrica. Lá, ela luta contra a depressão pós-parto e um coração partido, em meio a conflitos familiares. Não é fácil, claro. Aos poucos, porém, um certo rapaz, Adam, aparece em sua vida e a promessa de dias melhores se faz mais nítida. O problema é que isso acontece bem na hora que seu ex-marido, James, reaparece, dizendo estar arrependido. E agora? Claire deve dar uma segunda chance ao seu passado, ou uma primeira chance ao seu futuro?
Na verdade, Claire devia ficar satisfeita por ter um passado amoroso e a perspectiva de um futuro, porque, ao menos no presente, ela é irritante. Marian Keys fez uma personagem fútil e exagerada. E acho que ela sabia disso, pois logo nas primeiras frases do livro, avisa: "Desculpe se estou sendo desnecessariamente frívola quanto a isso." Bem, eu até desculparia se você não passasse o livro todo se lamentando.
A narrativa em primeira pessoa passa uma falsa intimidade com o leitor. A protagonista se acha no dever de ser engraçada a cada frase, então, o que era para ser sutil e característico de sua personalidade, se torna forçado. Às vezes, você até consegue rir alí e acolá, mas na grande maioria, o máximo que Claire consegue é arrancar de você, na marra, um sorriso amarelo.
Os monólogos são repetitivos e extensos. Páginas e páginas sobre como se acha gorda (Daí vem o nome do livro! Uou!), feia, deslocada, velha, tola etc etc etc. Páginas e páginas de como James era um canalha por tê-la abandonado. Páginas e páginas de como Adam era jovem, bonito e atencioso. Páginas e páginas (acreditem) descrevendo o pênis do dito cujo. Páginas e páginas e páginas e páginas que me fizeram chegar a uma única conclusão:
Eu entendo porque James a abandonou. Quem aguentaria tanto drama? Ela é neurótica.
Os personagens secundários não conseguem salvar a história (e existe uma?) - são tão estranhos quanto a personagem principal. Sua família e seus dramas são clichês e previsíveis. Adam até tenta melhorar a situação, ele é um cara bacana. Se por um lado entendi porque James a abandonou, não consegui acompanhar o raciocínio de Adam para se interessar por Claire. Ela se odeia tanto, que é contagioso. Passei a odiá-la também e a desejar que não terminasse com nenhum dos pretendentes. Ela tinha é que ir pra Marte - longe de todos, longe de mim.
O maior problema (o último, prometo) é que a personagem não amadurece, não passa por uma mudança significativa. Ou seja, começa o livro insegura e o termina da mesma forma. Keyes, no tempo extra do 2º tempo, tenta provar que a mocinha conhece seu valor... "- Sou inteligente e tenho amor próprio." Desculpa, mas não me convenceu. Suas atitudes até a última palavra demonstram exatamente o contrário.
Como dito no início da resenha, Melancia me fez perceber o que me incomoda tanto na maioria dos 'livros de mulherzinha': eles retratam o sexo feminino da maneira mais idiota possível. Simplesmente me recuso a acreditar que existam mulheres assim – não rola identificação alguma com Claire. Tá certo que todas somos inseguras e temos nossos medos, mas a esse extremo, duvido.
Apesar de tudo, não fiquei descrente com o gênero chick-list. Já li um outro livro da própria Marian Keyes, que considero ótimo. Mas deixa pra lá, que isso é assunto pra outra resenha - por enquanto, fico com o gosto de decepção na boca causado por Melancia. Nunca gostei mesmo dessa fruta aguada.