Flávia Menezes 18/03/2022
NÃO É A GRAVIDADE QUE NOS PRENDE, MAS O PESO DO PRECONCEITO.
?Ascensão?, de Stephen King, publicado em 2018, é uma história curta, porém, que é tão brilhante que fica até difícil colocar em palavras tudo o que eu senti durante essa leitura. Mas... eu vou tentar.
Nesta obra, o Mestre das palavras, Stephen King, nos traz uma narrativa bem ao estilo kafkiano, em que assim como em ?A Metamorfose?, de Frank Kafka, seu protagonista nos é apresentado no exato momento em que ele descobre que está sofrendo de uma condição física que não pode ser explicada pela medicina. E por trás dessa condição absurda, King vai construindo sua escrita no mais brilhante realismo mágico, que é caracterizado como uma técnica que combina fantasia com realidade bruta, física ou social dentro de uma busca pela verdade além daquela disponível através da superfície da vida cotidiana.
Enquanto Kafka traz a mensagem das exclusões sociais, da desumanidade, da opressão e até da depressão, em ?Ascensão?, King nos fala sobre os preconceitos, e do quanto a forma como vemos e julgamos o mundo é o verdadeiro peso que carregamos, e que nos prende ao chão muito mais do que a força da gravidade.
Com uma linguagem mais poética (que combinei com perfeição com ?Vermilion part.2?, do Slipknot de fundo), as descrições que o autor vai fazendo nos transporta com facilidade para o universo do protagonista. Na cena da chuva, eu quase podia ouvir o som que ela fazia ao tocar o chão, tanto quanto pude experimentar toda a sensação de liberdade que o protagonista descrevia. É tão mágico, que é impossível não mergulhar nessa história e não se emocionar no final. E um final que, volto a reforçar, bem ao estilo kafkiano.
O senso de justiça, de proteção, de empatia que o protagonista revela, é algo muito tocante. Tanto quanto a dor pelas injustiças que o preconceito sofrido pelas personagens de Deirdre McComb e Missy Donaldson passaram. Impossível não se chocar e sofrer junto, já que é algo tão real.
E no término da leitura, somos marcados pela mensagem final do quanto só poderemos nos tornar muito mais leves, do quanto inclusive só será possível flutuarmos, quando escolhermos nos despir dos nossos preconceitos.
Mais uma vez, como em todas as histórias do autor, os vínculos de amizade que vão sendo estreitados durante a narrativa é algo que nos arrebata, de forma que não há como não criarmos laços com esses personagens. Compramos a briga deles, assim como nos alegramos e sofremos junto com eles.
Finalizo essa história com a sensação de que foi um dos livros mais brilhantes que já li em toda a minha vida, e que me encantou e me emocionou em tão poucas páginas.
Mais uma face do Mestre que vem para me mostrar o quanto esse é um homem que deve ter vindo de outro planeta. Porque não é normal uma mente tão rica e versátil quanto a dele! Obrigada, King, por mais uma obra incrível como essa!