Erick Macedo Pinto 16/12/2023
"As filhas das bruxas que vocês não queimaram"
Tags de recomendação: Ficção científica; ficção; fantasia; ficção científica fantástica; distopia; feminismo;
Trinta e cinco anos depois do estrondoso sucesso de "O Conto da Aia", Margaret Atwood retorna com um livro-resposta para os fãs que durante este tempo levantaram várias questões que a autora deixou em aberto após o final do primeiro livro e com mais informações sobre o que aconteceu com Gilead, o país que vive sob uma teocracia.
Já na história, o salto temporal entre o fim dos acontecimentos do primeiro livro e o início dos acontecimentos deste é de cerca de 15 anos. E, diferente do primeiro, onde vimos a história inteira, e flashbacks, sob os olhos de "Offred" dessa vez temos 3 mulheres contando seus pontos de vista sobre o que aconteceu nesses 15 anos e relatando o destino de Gilead.
A primeira, Tia Lydia, é responsável por mais flashbacks na história dando o seu ponto de vista de como tudo isso começou e vemos um pouco como era sua vida antes do golpe que instaurou o governo atual e modificou os Estados Unidos. É a mais velhas das três narradoras ou, testemunhas.
A segunda é uma jovem de família rica, poderosa, que vive em Gilead. Ela dá uma noção de como as jovens são criadas em Gilead e, no caso dela, para ser a esposa perfeita. Por não ter saído de Gilead e não ter contato com informações de fora, acredita fielmente no sistema, nos líderes de Gilead.
A terceira, a mais jovem das três, é de uma família de classe média que vive no Canadá. Seus pais são protetores são donos de uma loja de roupas. Esta jovem vive em outro regime, com outros costumes e hábitos, diferente das duas primeiras, e se opõe a tudo o que vem de Gilead através dos meios de comunicação e o que é falado sobre a nação nas escolas.
Passados os 15 anos, um bebê muito importante, simbólico, que supostamente foi raptado de Gilead e, como acredita o governo deste país, foi levado para o Canadá é o tema principal da tensão entre os países. Gilead acusa o Canadá de esconder um cidadão gileadano e, através de uma rede de informantes, tenta encontrar o rastro do bebê e levá-lo de volta para seu país de origem pra que tal conquista, e o bebê, sejam usados com fins políticos. Já o Canadá vê Gilead como uma nação perversa, com valores deturpados e costumes que ferem a dignidade humana. O país recebe muitos refugiados de Gilead (não é permitida a saída do país teocrático visto que "nenhum homem deveria querer deixar o paraíso").
Ao longo das páginas, vemos o que cada uma dessas mulheres, em diferentes contextos, enxerga dessa situação e, em paralelo, Tia Lydia (personagem tão odiada no primeiro livro) nos conta um pouco da sua história. O que ela passou e o que fez pra chegar até ali e ter a posições que ocupa como a principal Tia de Gilead.
Foi interessante ver o caminho que, inevitavelmente pelo o que foi visto em "O Conto da Aia", Gilead acabou tomando. Mas, principalmente, foi muito bom conhecer mais da Tia Lydia, que pra mim, é a principal personagem dessa história. Por tudo o que passou, o que fez, suas motivações. É notável que ela acabou se tornando um produto do meio em que vive, fazendo tudo o que fez como a maneira que ela encontrou pra sobreviver em tamanha opressão.
Para leitores mais atentos, a trama perde um pouco de peso logo ao estabelecer todas as suas premissas pois é possível fazer algumas associações que posteriormente são confirmadas. Algumas informações não são tão bem escondidas e dá logo pra perceber pra onde a história vai caminhar. Então não é um livro que prende tanto como o primeiro, se tornando apenas o que a autora quis pra ele: um livro que vai dar uma série de respostas para os fãs, mas não estabelece nada muito novo.
De qualquer forma, é um bom livro para fechar algumas pontas que foram deixadas soltas e trazer um final mais claro, definido, para a história sem deixar muito mais dúvidas sobre o que aconteceu com um outro personagem e o que aconteceu com Gilead.