@fabio_entre.livros 15/01/2022
Clássico revisitado
É incrível como algumas obras se tornam melhores quando revisitadas, seja devido àqueles pequenos detalhes que passaram despercebidos na primeira leitura, seja por um discernimento mais sólido do contexto por parte do leitor. Tal foi a minha experiência com "Batman: Ano Um"; li a obra há pouco mais de um ano e, apesar de tê-la achado muito bem escrita, meu entusiasmo por ela foi apenas moderado.
Desde então, li mais materiais do Batman, com destaque para "Xamã" e "O longo Dia das Bruxas", obras diretamente ligadas a "Ano Um", o que me incentivou a reler o clássico de Frank Miller agora. E desta vez eu finalmente percebi o quão perfeita esta graphic novel é.
Frank Miller já era uma lenda dos quadrinhos por ter produzido a obra mais emblemática e adulta do Batman nos anos 80: "O Cavaleiro das Trevas", minissérie que, tal como "Watchmen", do Alan Moore, desconstruiu a concepção simplista sobre os super-heróis no período pós-Crise nas Infinitas Terras. E, por mais incrível que pareça, com "Ano Um" o autor conseguiu criar um clássico à altura de "O Cavaleiro das Trevas" em composição de personagens e realismo narrativo.
Publicada originalmente em 4 edições de pouco mais de 20 páginas cada, "Ano Um" é uma história de leitura rápida, mas proporcionalmente complexa. Apresentando os primeiros passos do Batman em sua penosa e utópica missão de expurgar o crime em Gotham City, a HQ acerta o tom de duas maneiras: primeiro, mostrando a inexperiência do Bruce (que, inclusive, o leva a cometer grandes burradas que quase lhe custam a vida por mais de uma vez); em segundo lugar, focando esse início de carreira no universo real da sociedade. Nesta história não há nenhum dos maníacos carnavalescos que povoam a galeria do Batman; aqui ele lida com questões mais mundanas, comuns às grandes metrópoles: crime organizado e corrupção política.
Em poucas páginas, Miller mergulha o leitor nesse mundo sujo e pessimista onde a esperança de melhorias parece impossível. Também em poucas páginas, o roteirista esboça satisfatoriamente a formação da trindade: Batman, Gordon e Dent, a parceria que inspirou Chris Nolan em sua memorável trilogia cinematográfica. De quebra, ainda sobra espaço para trazer uma nova origem para a Mulher-Gato.
Recentemente, li "Ano Zero", a reinterpretação de Scott Snyder para o início da carreira do Batman na fase dos Novos 52 e, embora tenha gostado bastante da história e, principalmente, do uso do Charada como vilão central, não há como negar: embora muito mais curto, Ano Um é mais completo.