Tamires 26/11/2019Jamais peço desculpas por me derramar, de Ryane LeãoHá alguns anos eu lia poesia errado. Eu prestava mais atenção nas métricas, rimas e no estilo impresso no papel (ou na tela). Desse jeito a poesia não me tocava muito. Era bonita, mas não era grande coisa (p a r a m i m).
De uns tempos pra cá, eu comecei a ler através do muro da rigidez física da poesia. Não é uma habilidade especial ou algo que eu aprendi na faculdade, apenas passei a ignorar aquilo que não me acrescentava muita coisa como leitora e me fixei naquilo que a poesia quer comunicar, naquilo que ela pinça lá no fundo do meu coração. Descobri a beleza do verso que prioriza o sentimento, que não força… simplesmente existe.
A razão dessa introdução é apenas uma: reforçar que a poesia está mais democrática, acessível e gostosa do que nunca. Apenas l e i a e seja (mais) feliz!
Se você ainda não teve a sua dose diária de poesia, recomendo o livro Jamais peço desculpas por me derramar (Planeta, 2019), de Ryane Leão. “Mulher preta, poeta e professora cuiabana que vive em São Paulo”, nas palavras da biografia da autora, Ryane Leão publica seus escritos na página onde jazz meu coração e é autora também de “Tudo nela brilha e queima: poemas de luta e de amor” (Planeta, 2017). Ryane tem uma escrita muito especial, comunica com muita paixão o ser mulher, sobretudo o ser mulher preta brasileira. É uma poesia muito nossa e que vale muito a pena a leitura.
“todas as revoluções
que eu desejo
começam em mim.”
“eu sou maravilhosa sozinha
mas com você sou
o dia todo
poesia.”
“não há ciclo
feitiço
amarração
remédio
identificação
desculpa
porre
ou poesia
para prolongar pessoas
partir ou ficar são escolhas
não acidentais e intransferíveis.”
“celebre a mulher
que você está se tornando
não tape os ouvidos
ela está te chamando
ela dança com o fogo
ela é pancada mas também é doce
ela sempre foi sua melhor escolha
ela é tudo aquilo que sobreviveu.”
“jamais peça desculpas por se derramar.”
Eu poderia dizer que, se você gosta de Rupi Kaur, vai gostar deste livro. Apesar de estarem na mesma prateleira — a poesia —, acho que Jamais peço desculpas por me derramar é diferente. A poesia escrita originalmente em língua portuguesa tem, para nós, um sabor diferente. Mesmo a poesia brasileira escrita no passado é diferente para nós, que lemos hoje. Sugiro a você testar e experimentar: aumente a sua dose diária e amplie o seu cardápio literário. Tenho certeza de que vai gostar!
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