ricardinho 16/11/2022
Militante
Professor, advogado, filósofo e ativista da causa marxista. Este foi Paulo Freire, aclamado por muitos, odiado por outros. Dentre as várias obras, destaca-se Pedagogia do Oprimido e é sobre tal livro que falarei aqui.
A dicotomia oprimido/opressor é evidenciada em toda a obra, estando claro que substitui, com o mesmo tom, o par proletariado/burguês. Dito isso, fica evidente o objetivo central do autor: engajamento revolucionário marxista tendo como meio a educação.
Freire inicia prevenindo os educadores/revolucionários sobre a falsa generosidade dos opressores, que têm como verdadeiro objetivo, a manutenção do status quo. Por outro lado, esclarece que os oprimidos são os indicados para lutarem por liberdade, pois conhece de perto a falta dela. Mas essa busca deve ser cuidadosa, distinguindo-se a consciência transformadora da hospedeira sob risco de acontecer, apenas, a inversão dos polos, e não o surgimento de um homem novo. Assim, a pedagogia do oprimido tem suas raízes na luta pela libertação e os oprimidos devem ser seus próprios modelos. Para tanto, primeiro deve-se transformar o mundo opressor. Em seguida, a pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação.
Em uma próxima fase do livro, o autor afirma que a violência opressora jamais foi deflagrada pelos oprimidos na história, mas a rebelião do oprimidos é quase sempre tão violenta quanto à violência que os cria, podendo, ainda assim, inaugurar o amor (seria uma nova roupagem de paz é guerra de Orwell?). Afirma, também, que para os opressores, importando apenas os lucros, o que vale é ter mais, principalmente, às custas do ter menos dos oprimidos. Ainda assim, estando alienado, o oprimido quer os mesmos padrões de vida dos opressores (vê-se muito nos oprimidos da classe-média). Em outros casos, os oprimidos ouvem tanto que são incapazes que acabam aceitando a ideia. Está claro que não há uma metodologia de ensino na obra, mas um treinamento revolucionário recheado de citações com viés político marxista e/ou gramsciano (Che, Mao, Fidel, Marx, etc.).
Posteriormente, há uma importante análise do professor e que serve de reflexão, também, sobre a educação nos dias atuais. Ele classifica a educação em "bancária" (depósito de dados entediantes e que não agregam) e que proibe o pensar verdadeiro e problematizadora, em que há maior/real interação com o mundo, tornando o cidadão crítico. Excluindo a imposição de ideais partidários, essa ideia de educação pode agregar na definição de uma metodologia próxima do ideal (minha opinião). Mas Freire aproveita a oportunidade para dizer que deve-se educar inserido códigos da realidade do educando, deixando claro que ele sempre será vítima do sistema.
Já na fase final da obra, ensina-se a aplicar a pedagogia defendida pelo professor. Primeiro, o educador deve fazer visitas periódicas no local de aprendizagem, campo, por exemplo, e anotar o dia a dia das pessoas. As anotações vão desde comportamentos, passando por expressões e linguagem. Nessa fase, deve-se priorizar histórias de "coitados" e vítimas (seriam os mais fáceis de serem manobrados?). É importante entender que os educadores-educandos, como a programação educativa é dialógica, podem incluir temas conectores conhecidos como "temas dobradiças" (indutores a temas desejados). Uma dica útil dada pelo autor e que, realmente, deveria ser aplicado por professores: mostrar várias versões de uma mesma notícia e discutir os possíveis motivos para que haja diferenças nas apresentações. No entanto, ele também orienta que os educadores esclareça alguns "mitos" que servem apenas para confundir os educandos: existência da igualdade de classe e mérito, liberdade para escolher emprego, moralismo e cristianismo, etc.
Voltando a enfatizar o tema principal da obra, o autor diz que os poderosos sempre querem dividir para manter a opressão (favorecendo alguns membros de sindicatos, por exemplo, fazendo-os representá-los veladamente). Nesse ponto, é importante lembrar que esse lema, na verdade, era do marxista Lénin.
Finalizando o livro, há uma série de afirmações que servem de reflexão e mostram o objetivo principal da obra: problematizar é um antídoto contra a manipulação, diz sabiamente e com razão o autor. A única observação é que pode ser uma via de mão dupla; quando o populista deixa de sê-lo, poderá ser revolucionário. Quando lembramos dos últimos presidentes do Brasil, percebemos que isso não é verdade; compra e venda de trabalho é uma espécie de escravidão. Afirmação comunista e defasada; em estruturas dominadoras, os lares e as escolas funcionam como agências formadoras de futuros invasores. Seriam nesses lares ou nas escolas desvirtuadas?; a liderança deve desconfiar do homem oprimido, pois há sempre o opressor "hospedado" nele. As ditas vítimas do sistema não seriam confiáveis? Contraditório!; unidade dos oprimidos contra a divisão dos opressores. Revolução!; humanizar-se é ser proprietário do próprio trabalho. Isso significa que é indigno optar por ser empregado?
É um livro interessante e com objetivos claros, mas bem diferentes do que dizem alguns professores e ativistas. Indico a leitura e que tirem suas próprias conclusões. Também reflitam acerca da perigosa afirmação de Freire que diz que a revolução é biófila, mesmo que tenha que deter vidas. Seria no sentido figurado ou no literal (lembrando que ao fazer tal afirmação, ele cita um episódio do assassino Che em Serra Maestra).
Leia, reflita e viaje sem sair do lugar.
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