Carla.Parreira 27/10/2023
RILEY, Lucinda. A sala das borboletas. São Paulo: Arqueiro, 2019.
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Resumo feito na primeira pessoa...
Meu nome é Posy Montague. Quando tinha meus sete anos, amava explorar a terra e os jardins. Ficava com meu pai atrás de espécies de borboletas na Admiral House, propriedade que está em nossa família há muitos anos. O ano de 1943 marcou de vez a minha vida: vi meu pai ter que retornar para a guerra já que ele estava recuperado do último acidente. E os anos foram se passando e a esperança, assim como o desejo de ver meu pai retornar, foi ficando cada vez mais distante. Não demorou muito para descobrir que nunca mais estaria na companhia dele. Fui criada por minha amada avó. Consegui me formar em uma renomada universidade, tive uma grande desilusão amorosa, me casei e tive dois filhos com personalidades extremamente diferentes: Sam sempre foi um homem frustrado, que estava sempre pulando de ramo e era incapaz de obter sucesso em seus negócios. Nick é parecido comigo, trabalhador, gosta de antiguidades, mas uma decepção amorosa o fez fechar seu negócio e passar um tempo na Austrália. Passados dez anos ele resolveu retornar a Inglaterra, para a minha felicidade. Herdei uma boa soma de dinheiro e a Admiral House, mas a casa tornou-se grande demais apenas para mim. Além do mais, a manutenção era algo necessário, porém Sam viu na casa a oportunidade de fazer dinheiro e ter sucesso nos negócios. Resolvi dar prioridade na venda da casa para ajudá-lo, mas o medo de vê-lo novamente falhar me fez mudar de ideia algum tempo depois. Nessa casa sempre tive grandes histórias e o reencontro com o meu grande amor do passado desencadeou algumas revelações sobre o nosso passado. Descobri finalmente o motivo de Freddie ter me abandonado há cinquenta anos atrás partindo meu coração. Durante a infância, vivi meus melhores dias ao lado do meu pai e perdê-lo foi muito difícil, porém, com a ajuda da minha avó, me tornei independente em uma época em que tudo o que se esperava de uma mulher ainda era que ela se casasse e procriasse. Sou uma mulher forte, destemida, curiosa e justa. Eu vejo muitas semelhanças das parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo no que tange aos meus filhos. Sam é um homem ambicioso, porém, sem nenhum tino empresarial. Ele sempre gasta tudo o que tem e acaba colocando nos ombros da esposa, Amy, toda a responsabilidade pelo sustento da casa. Ver Sam consecutivamente apostando em negócios furados enquanto sua esposa e seus filhos viviam às minguas sempre me deixou muito consternada. Nick, por sua vez, é um antiquário com uma visão muito aguçada, visão esta que o ajuda a acumular fortuna rapidamente. Nos assuntos do coração, porém, a história é outra. Foi após uma desilusão amorosa que ele partiu para a Austrália. Amy, esposa de Sam, sempre foi uma super companheira para ele durante seus altos e baixos até que começou a enxergar que merecia mais do que um marido cada vez mais instável emocionalmente. Sebastian, um romancista que chegou em Southwold a fim de escrever a sequência de seu livro best seller acabou ficando encantado por Amy. Tambem posso falar de Tammy, uma ex-modelo que já tinha sua cota de relacionamentos fracassados quando mergulhou de cabeça em um relacionamento com Nick sem desconfiar que ainda havia uma história dolorosa e complicada entre ele e Evie, seu antigo amor e o motivo de sua partida para a Austrália. Bem, vou detalhar um pouco mais minha história. Como dizia, no ano de 1943, em Southwold, pequena cidade situada no condado de Suffolk, Inglaterra, eu vivia feliz ao lado do meu pai, Lawrence, e da minha mãe francesa, Adriana, na centenária Admiral House. No auge da Segunda Guerra Mundial, Lawrence, que a serviço do exército britânico era piloto de Spitfire, sofreu um acidente e precisou retornar à propriedade da família enquanto se recuperava. Botânico antes da guerra, Lawrence passava os dias me ensinando tudo o que sabia a respeito das plantas e das borboletas, estas últimas eram a sua secreta paixão. Porém, foi chegado o momento de uma nova partida, o que me deixou muito triste. Eu tinha apenas sete anos na época e não tinha a mínima ideia de que aquela seria a última vez em que veria meu pai com vida.
Minha mãe Adriana nunca demonstrou muito carinho por mim e me enviou para a casa da minha avó paterna na Cornualha. No final de 1944 chegou a triste notícia do falecimento do meu pai. Eu precisava da minha mãe, mas ela, mais uma vez, arrumou uma desculpa para adiar nosso reencontro. Em 1949 eu já estava conformada e sabia que só podia contar com a minha avó, a qual me enviou para um colégio interno onde me destaquei com louvores. Em 1955 comecei a minha gradução em Botânica na Universidade de Cambridge. Lá eu conheci Freddie, paixão fatal que partiu meu coração repentinamente. Percebi que aquele tipo de amor não era uma força do bem: era avassalador, destrutivo, abarcava tudo. Também conheci Jonny, o segundo amor da minha vida, meu porto seguro. Southwold, 2006. Estava prestes a completar 70 anos e ja era há muito tempo viúva. Lidava com a rápida deterioração da Admiral House, com a derrocada de Sam, meu filho mais velho e com o retorno de Nick, meu filho mais novo, à Inglaterra. E foi aí que tive que lidar com a repentina reaparição de Freddie, que guardava um doloroso segredo que tinha a ver diretamente com o nosso término nos anos 50. Em meio a um turbilhão de acontecimentos, toda a minha vida foi posta à prova e eu precisei lidar com as mudanças que um segredo é capaz de impingir não somente àqueles que o guardam, mas também àqueles a quem parece proteger. Quando fui surpreendida pela reaparição de Freddie, meu primeiro amor, tive de lidar com uma onda de sentimentos há muito tempo reprimidos. Freddie, entretanto, agia de maneira estranha sempre que passávamos algum tempo juntos, dando a entender que suas intenções não possuíam cunho romântico. Porém, o que ele guardava era um segredo que fez o meu mundo desmoronar. Essa é parte da minha vida, uma história sobre relações familiares e tudo aquilo que as permeia; segredos, mágoas, arrependimentos, inveja e amor. Este último, dividido em suas tempestades e bonanças, ora presenteando com surpresas inesperadas e ora cegando aqueles que o sentem. Como costumo dizer, um lar não é feito de tijolos e argamassa. Mas também de amor, convivência e alegrias. É o amor que faz a magia acontecer na vida. Mesmo no dia mais sem graça, nas profundezas do inverno, o amor pode fazer o mundo se iluminar e parecer lindo. Quando fico triste cavo a terra fértil e penso nos milagres que ela produz. Tudo está em um equilíbrio delicado. E o bater das asas de uma borboleta pode fazer toda a diferença no mundo.