Gabriel 29/08/2020"Oh, admirável mundo novo"Sem sombra de dúvidas, Admirável Mundo Novo é uma leitura de partir o cérebro ao meio devido à complexidade e profundidade da obra.
Comecei o livro tendo muita dificuldade no entendimento do mundo tão distópico (será?) e tecnicamente científico criado por Aldous Huxley.
Em uma sociedade perfeita, as pessoas são geradas através da manipulação genética, e não através da reprodução sexuada (o que é indecente e proibido), e são desde as suas primeiras divisões celulares destinadas a serem e pertencerem à alguma casta social.
Os mais bem providos de inteligência, conforto e importância, os Alfas, são também os mais infelizes, já que são responsáveis por pensar, raciocinar e ter de lidar com as questões que gerem a sociedade, diferente dos membros das classes mais baixas que são utilizados como "burros de carga".
A história "engata" no capítulo em que um jovem Alfa (com aparência de Gama) viaja até uma reserva indígena onde as pessoas mantêm as antigas tradições de séculos atrás. Lá, o rapaz conhecerá um indígena que se sente deslocado dos outros moradores da reserva (não posso dizer o porquê, pois essa é uma das partes mais empolgantes do livro) e que acaba sendo levado para o mundo civilizado para servir como objeto de estudo.
Seríamos capazes de viver em um mundo totalmente diferente do que estamos habituados? Seria a "evolução tecnológica" um bem que alguém deveria compartilhar com o restante do mundo (mesmo que contra a vontade do mesmo)?
Huxley é muito inteligente na forma como critica as civilizações "avançadas", mostrando que um choque cultural pode gerar conflitos, uma vez que moral e ética são valores pessoais e que variam conforme as sociedades e indivíduos.
Os capítulos finais do livro me fizeram refletir muito sobre o sentimento e a realidade dos africanos que tiveram o seu continente invadido pelos europeus durante o período do neocolonialismo (séculos XIX e XX) e sobre os grupos indígenas que viviam nas América durante a colonização espanhola e portuguesa (e também em relação aos poucos que restaram). Os mesmos, na maioria das ocasiões, tiveram sua cultura, soberania e territorialidade contestada pelo "homem branco", onde o mesmo tentou (e ainda tenta) diversas vezes empurrar à força uma forma de vida e comportamento aos povos originários. Este último deixa muito evidente a importância do papel de preservação da soberania dos povos sobre a própria intelectualidade e sobre os seus domínios.