spoiler visualizarAugusto 24/07/2020
Está bem, está bem... Harry Potter é legal.
Harry Potter e a Pedra Filosofal
É fácil entender o fascínio que este livro tem exercido sobre tantas crianças e jovens.
Rowling consegue nos trazer bem rápido para o mundo de Harry.
Um órfão, vivendo na casa de parentes que fazem questão de deixar clara a antipatia que nutrem por ele praticamente todas as vezes que respiram.
No entanto, há todo um mundo desconhecido e invisível aos olhos do garoto se escondendo em cada canto, em cada esquina.
Magia, feitiços, fotografias que se movem, um serviço postal funcionando por meio de corujas, criaturas mágicas das quais ele ou nunca havia ouvido falar ou jamais imaginaria serem reais... tudo logo ali... um universo se abrindo ao protagonista depois do recebimento de uma carta (no caso de Harry... algumas centenas).
Mas não é tudo... as diferentes personalidades das outras duas crianças que compõem o trio principal é um acerto. Quase inevitavelmente você se verá, em maior ou menor grau refletido em Harry, em Rony ou em Hermione (espero que nunca em Malfoy) e suas angústias, medos, sonhos, conquistas.
A escrita de Rowling aqui é muito diferente da que conhecia até então através do único livro dela que havia lido (Morte Súbita)... leve, fluida, com momentos bem divertidos e personagens coadjuvantes igualmente cativantes. Traz também, é claro, algumas figuras detestáveis e um vilão que, mesmo oculto pela escrita da autora durante quase toda a história, vai acrescentando uma tensão bem vinda à obra.
Mas... nem tudo é perfeito... porque embora o receio que sempre tive de que obra fosse demasiadamente infantilizada não tenha se confirmado, há momentos que um adulto mais chato (como eu) sentirá dificuldade de ignorar.
E aqui faço um alerta de spoiler... se é que alguém ainda consegue se irritar com spoilers de um livro que creio ter sido publicado pela primeira vez no Brasil em 1997 (!) e que teve sua adaptação aos cinemas exibida à exaustão nos últimos 19 anos desde seu lançamento...
O capítulo que narra as crianças tentando se livrar de um dragão que Hagrid decide criar mesmo sabendo que isso constituía uma infração grave das leis dos bruxos é... divertido... mas ao mesmo tempo indigesto.
Não é fácil engolir a ideia do "Guardião das Chaves" aceitando tranquilamente as crianças (e a casa Grifinória) sofrendo uma punição tão severa em virtude de algo que era resultado de uma imprudência inicial dele.
Não combina com o que fora apresentado do personagem até então.
A reação dele ao encontrar as crianças após o ocorrido, sem qualquer indicação de sentimento de culpa é absurda. Na verdade, ele age como se a punição fosse justa...
Assim também é absurda a coisa de o castigo escolhido para as crianças ter sido uma missão na Floresta Sombria... a mesma que era proibida aos estudantes em virtude dos perigos que oferecia.
Mas não bastasse isso, a tarefa envolve descobrir e talvez caçar uma criatura que estava matando unicórnios. "Um ser mágico poderoso" (nas palavras do próprio Hagrid) e que só poderia ser morto por algo de poder ainda maior.
O Guarda-caça ainda acha por bem dividir as crianças (do primeiro ano de escola!) em dois grupos e deixar uma dupla vagando sozinha pela floresta à mercê de todos os perigos que a mesma guarda e na companhia nada alentadora de Canino, o cão que havia há pouco sido descrito pelo gigante de Hogwarts como "covarde".
Em suma... escolhas narrativas que provavelmente passarão batidas pelas crianças, mas sucumbem a um crivo um pouco mais adulto.
A despeito disso... Rowling me levou até o fim do livro sem nenhum esforço. E mesmo que eu já tivesse uma boa suspeita do que aconteceria, ainda virei a última página com um sorriso.