Resenhas -

Julia 09/06/2023

"Você sempre dizia que os negros tinham de lutar,
pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo
e que pensar era o que nos restava. É necessário
preservar o avesso, você me disse. Preservar
aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito
e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina
nosso modo de estar no mundo. E por mais que
sua vida seja medida pela cor, por mais que suas
atitudes e modos de viver estejam sob esse
domínio, você, de alguma forma, tem de preservar
algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre
músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu,
isolado e único. E é nesse lugar que estão os
afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos".

savio.jacyntho 19/06/2022

a-b-c para entender o racismo
a leitura é muito fluída com uma escrita supersimples, justamente para qualquer pessoa conseguir compreender as consequências do racismo para as pessoas pretas. basicamente um abecedário para entender o racismo no brasil, mas mais especificamente em porto alegre, onde a maioria da população é branca. só tiro uma estrela porque em alguns momentos fiquei confuso com a linearidade cronológica das histórias, mas isso foi uma dificuldade pessoal, não tira em nada o mérito da leitura.

mcalmelo 13/07/2023

Necessário
No início, o livro traz um pouco de dificuldade na leitura devido a idas e vindas da narrativa. No entanto com o desenrolar da história, o livro se torna mais aprazível e ao mesmo tempo angustiante. Leva-nos a refletir acerca de certas atitudes consideradas "normais", mas que carregam uma alta dose de racismo e o quanto essas atitudes, muitas vezes involuntárias, machucam as pessoas vítimas desse crime e tornam suas vidas cada vez mais triste e sem brilho. Mas apesar de todas essas dificuldades impostas pela sociedade, essas pessoas conseguem juntar forças e lutar contra as perversidades da sociedade.

carolmureb 25/03/2024

Decidi ler o livro depois que a secretária de educação de 3 estados do Brasil decidiu recolher os exemplares destinados às escolas públicas desses estados. Como é possível um livro premiado e que está no mercado há 4 anos seja censurado? A fragilidade dos argumentos é confirmada na leitura. O livro, de leitura fácil e fluida, toca em temas como racismo estrutural, violência policial e a fetichização dos corpos negros. Por ser um livro curto, com linguagem acessível e narrativa bem construída prende a atenção do leitor e sim, faz pensar. Entretanto, não há novidade para qualquer pessoa que acompanhe, minimamente, as notícias do Brasil no que diz respeito à racismo e violência policial. Vale sim, e MUITO, a leitura dos estudantes e nossa.

"Pessoas brancas nunca pensam que um menino negro e pobre possa ter outros problemas além da fome e das drogas" p. 79.

"É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sobre esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende?" p. 56.

"A infância nos fornece certas mágoas e é com elas que lutamos" p. 34.

Clari.Monise 14/04/2023

O livro conta como um homem e uma mulher passaram pelo racismo narrado pelo filho desse casal. Um livro denso que te coloca na pele dos personagens e te dá um novo ponto de vista pra quem só vê tudo oq acontece pelo lado de fora da história. Um livro necessário.

ca.rol 08/05/2023

"(...) uma espécie de mantra. Um manual de sobrevivência."
Terminei a leitura com lágrimas nos olhos. O Avesso da Pele é um livro emocionante, doloroso e, acima de tudo, super necessário. Retrata tantas problemáticas. O escritor acertou demais.
É ridículo saber que apesar de sermos uma "sociedade moderna", "nós" normalizamos tantos conceitos/padrões absurdos usados para desvalorizar e diminuir um grupo.
Eu amei essa leitura!! Nos primeiros capítulos eu já estava encantada com a história. Finalizei o livro com aquele sentimento de: valeu a pena ler. É muito gratificante. Recomendo mil vezes.

"No entanto, agora eu sei que você estava me preparando. Você sempre dizia que os negros tinham de lutar, pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo e que pensar era o que nos restava. É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende?"

"Aprendi a inventar estratégias de sobrevivência. Seu pai também teve de inventar estratégias. Mas isso não significa que sejamos sempre bem-sucedidos. Quero dizer que nós, às vezes, falhamos. E falhar, no nosso caso, pode resultar num erro fatal. Ainda assim, Pedro, ainda assim a gente segue."

Francisco240 08/06/2022

Uma narrativa gritante
Um livro que vai tratar da narrativa de personagens negros e suas desventuras em meio a violência policial, ,estigmas sociais racistas, de racismo propriamente dito.
O livro inteiro é banhado por um clima pesado e o autor tem uma escrita muito boa que não faz o leitor cansar durante o processo da Leitura mesmo com diversos gatilhos que permeiam a narrativa, mas o que mais me chamou a atenção durante a leitura foram as diversas citações e referência a diversos clássicos da literatura tanto Carlos Drummond de Andrade na poesia quanto grandes clássicos da literatura Universal como "Crime e Castigo" de Dostoiévsk.

Douglas 07/01/2023

Algum momento parou para pensar em como e qual o grau em que o racismo muda, distorce, interrompe entre outras tantas coisas criminosas faz com a sociedade. Faz com que seres humanos sejam desumanizados, percam sua dignidade, sua voz, sua vida.
Magistralmente contando momentos do passado de seus avós, de seus pais e um momento de seu presente o narrador traz como nesse processo histórico o racismo acabou com a vida de seu pai e a saúde de muitos. Ponto de reflexão essa obra é crucial para pensarmos e repensarmos nosso cotidiano e o que nós cerca, desnaturalizarmos e podermos compreender como o racismo está infelizmente embutido onde não percebemos e como ele destrói vidas.

Sabrina.Natalini 07/02/2024

O melhor livro dos últimos tempos.
Eu estou impressionada com a quantidade de camadas que esse livro possui.
Eu terminei ele agora e já quero reler pq sinto que muitos detalhes passaram batidos. Quero ler outra vez com mais calma, parando pra refletir sobre cada detalhe.
E veja, eu não li correndo e ele não tem uma linguagem difícil, arrastada. É que é profundo mesmo.
Inclusive, eu nem via a hora passar.
Realmente recomendo muito.

Elo 03/02/2021

O mínimo que eu posso dar a esse livro são cinco estrelas. Jeferson Tenório tem uma das escritas mais sensíveis que já li. Sua habilidade em apresentar uma realidade tão dolorida, mas não esquecendo dos afetos, é impressionante.
O livro é uma aula sobre racismo e violência urbana. É muito doído, mas necessário. Sua leitura é indispensável.
Ainda estou digerindo o final.

Lizandra24 30/05/2023

??
O avesso da pele apesar de ser uma obra curta traz uma história comovente e necessária. É um livro que dói ler, causa angústia e raiva da sociedade em que estamos inseridos de como o racismo está enraizado de maneira indiscreta e visível. Porém que ainda assim é ignorado, e tratado como algo banal, principalmente porque não possui essa vivência na pele. Me fez pensar e refletir muito, principalmente sobre os privilégios que sempre tive e nunca percebi.

Caroline.Rodrigues 19/04/2024

Que livro!!!!
Eu amo esse tipo de narrativa, definitivamente é meu gênero junto com suspense, me agrada sentir os impactos numa narrativa de vivência, extrair os detalhes das situações.

Em o avesso da pele você sente como a vida molda as pessoas, como somos culpados e vítimas ao mesmo tempo, isso é uma loucura muito grande. Como um sistema de sociedade sustentado por pilares de injustiça e preconceitos adoecem as pessoas.

O avesso da pele é doloroso e dilacerante, ao passo que te entrega vidas e te faz sentir compaixão e raiva na mesma intensidade.

Excelente

Fabi.Filippo 21/01/2022

O avesso da pele - Livro 05/2022 - Jeferson Tenorio
O livro é o vencedor do Prêmio Jabuti 2021.

No livro, temos o relato de Pedro. Com uma narrativa visceral , uma verdade inventada como ele mesmo diz no final, ele escreve aquela história com a intenção de mantê-lo de pé.

Pedro perdeu seu pai, um homem negro, professor , numa abordagem policial . Para arrancar a ausência do pai e transformá-la em vida , juntou os pedaços que ouviu ao longo de sua vida e reconstituiu a história de seu pai Henrique e também de sua mãe.

O livro aborda muitos assuntos para reflexão, que precisam ser sempre trazidos à tona para debate , que ainda estão presentes em nossa sociedade, infelizmente. Racismo ( e aqui incluído o estrutural e o de gênero ) , desigualdade social , violência , decadência do sistema de ensino são alguns deles.

? Ser confundido com um bandido vai fazer parte da sua trajetória?

? Não chame a atenção dos brancos. Não fale alto em certos lugares, as pessoas se assustam quando um rapaz negro fala alto. Nunca saia sem documentos, não faça movimentos bruscos quando um policial te abordar.?

? É necessário preservar o avesso. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio , você de alguma forma , tem de preservar algo que não se encaixa nisso? E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantém vivos ?

Jeferson tem uma escrita envolvente e a forma como escreveu este livro, uma espécie de diálogo entre filho e pai nos faz mergulhar na história e sermos tocados profundamente.

klebio 22/01/2023

Leitura sensível
É o tipo de livro que te deixa chocado por ser ficção, pois tem uma autenticidade imensa pra ser algo real (e de certa forma é)
Gostei muito da leitura, fiquei impressionado com a narrativa e a maneira que ela te puxa pra dentro da história. Escrita maravilhosa. A temática bastante pertinente e importante, mas não é só por isso que o livro é bom, é pela forma como ele foi feito mesmo.
Primeiro favorito do ano!

hlvrcralc 09/03/2024

é necessário preservar o avesso.
O início do livro começa sem que a gente entenda muito, só sabemos da morte de alguém e todo o resto da história faz a gente supor o motivo dela.
é narrado pelo próprio filho dele, que trata o protagonista (pai) no lugar de leitor - o que faz a gente se colocar (ou tentar) no lugar dele, mas se torna extremamente estranho e incômodo em algumas cenas que descrevem ?certas coisas? pessoais até demais.

Henrique, quando mais novo, se mostava inocente e andava inerte, não tendo consciência do racismo que ele mesmo sofria. o livro mostra um processo de consciência racial e crescimento. na adolescência, vive amores racistas e supervalorizados para que pudesse superá-los por si só e tomasse o rumo para outros e outros. no mais, uma verdadeira amostra da vida real não romantizada e, apesar de comum, ainda assim, é necessário que essa história seja contada.

nos faz refletir sobre realidades em que até mesmo pessoas de pele negra se mostram racistas por causa do estruturalismo do preconceito na sociedade. em outros capítulos, conta a história dos avós (pais do Henrique), que demonstra essa estrutura tão complexa e necessária de ser desconstruída, ainda mais presente em tempos anteriores.
não posso deixar de comentar sobre a passagem que fala de psicanálise e da visão eurocentrica sobre ela.

em maior parte, a vida como ela é. ideias da cabeça de um adolescente negro tendo suas primeiras vivências e experiências (e mais partes incômodas quando se para pra pensar que o narrador é o próprio filho). decepções amorosas, realizações pessoais, relações familiares, desvalorização do professor, boemia, reflexões do próprio destino, solidão, solitude. arte negra e a importância da própria arte para salvar-nos de algo. mas não de tudo.

sobre a superproteção da martha com o filho, não pude deixar de pensar que todo excesso escondenuma falta. e talvez fosse, pra ela, algum tipo de compensação da ausência e abandono dos próprios pais.
é impossível não querer analisar.
também por isso, a noite em que henrique foi embora foi uma das partes mais pesadas e difíceis, principalmente por entender que ele tentou não fazer. mas relações disfuncionais geram atitudes devastadoras.

Henrique é um ser esquecido tanto como homem quanto como professor. não esquecido como todos nós seremos. carrega comsigo a cor da pele, que o torna descartável aos olhos da sociedade (principalmente sulista, em que ele vive).
?Todos os dias. Segue-se, não por bravura ou altivez, mas porque simplesmente não há o que fazer. E não há aí nenhum ensinamento ou lição a aprender. A não ser domar a tristeza e aceitar conviver com ela, você pensava.?
a vulnerabilidade para lidar com dores humanas independe da idade. somos eternos aprendizes cheios de incertezas, inseguranças e desilusões.
há paralelos com crime e castigo e com o próprio dostoiévski no final da história que são muito importantes também.

a morte de Henrique é esperada desde o início. da forma que foi, esperada pelos capítulos intercalados do final sobre a vida de um dos policiais.
da história, no geral, algumas coisas ficam em aberto, e o autor dá espaço para a nossa própria imaginação (não fala como ele e elisa terminaram, mas dá pistas quando ele se questiona sobre dever ter perdoado ela ou não). mas são muitas grandes histórias em poucas páginas e a vida é complexa e repleta de entrelinhas.

ao final do livro, o filho toma a vez de protagonizar a história em nome do pai, carregando consigo Ogum, mas além de tudo, explicitamente a cor de sua pele.