Emanuela 02/09/2021Texto simples e brutal?O mundo branco havia nos tirado quase tudo e que pensar era o que nos restava. É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo?.
O texto de Jeferson Tenório é fácil de ler, fluido como uma conversa. O tema, no entanto, é brutal. Em seu terceiro livro, ele traz questões sobre negritude, racismo e relações familiares.
O livro foi uma das minhas melhores leituras do ano, tanto pelo caráter literário quanto pela reflexões que suscita.
Na obra, temos Pedro, nosso narrador, contando a história de seu pai, Henrique, morto em uma abordagem policial em Porto Alegre. Ele monta uma colcha de retalhos memorialísticos a partir de suas lembranças para falar desse pai, professor de literatura. A cada nova lembrança, Pedro cria uma nova percepção sobre o que é ser negro, que até ali na sua juventude, com a pele um pouco mais clara que a de seu pai, não lhe havia sido exposta.
?Naquele momento você era apenas um corpo negro?.
Ao mesmo tempo em que conta a história do pai, Pedro também nos apresenta momentos da vida da mãe, mas é talvez quase no final de sua narrativa que Pedro chega também a compreensão das diferenças entre ser um homem negro e uma mulher negra.
?O que você tem que compreender é que os homens negros sofrem suas violências. E que as mulheres negras sofrem outras. Algumas são parecidas. Mas, veja, somos diferentes. Nem sempre as causas são iguais?.
Com esse relato Tenório escancara a dura realidade de que ser negro no Brasil é estar fora do lugar.