spoiler visualizarFilipe 19/06/2020
O que é ser bom?
Uma Laranjeira produz muitas laranjas, algumas mais cítricas e azedinhas, outras doces, algumas nem cá e nem lá, muitas serão colhidas, outras expelidas pela própria árvore. Mas o que te parece mecanizar essa coisa toda e tornarmos essas laranjas iguais em textura e sabor?
Diagnosticado com tumor cerebral inoperável, Anthony Burgees buscou no menor tempo possível conseguir fundos para que sua esposa pudesse ter uma vida confortável após sua morte, mal sabia ele que o diagnóstico médico estava errado, já que ele viveu quase 40 anos depois disso. Devido a surpresa desagradável Burgees se obrigou a escrever como nunca e nos presenteou com um prematuro ?Laranja Mecânica?, a aclamada distopia da cultura pop, considerado um dos 20 melhores romances em língua inglesa do século 20. A edição que tenho aqui é comemorativa de 50 anos, incrivelmente primorosa, publicada pela editora aleph e que pesa um saco de arroz, convenhamos (Risos).
Nosso protagonista Alex, tem uma vida comum, em uma família comum, é filho único e amante de música clássica, teria tudo para ser uma pessoa comum se não fosse por uma peculiaridade intrínseca de seu caráter, fundida com o desejo latente de realizar maldade sem nenhum pretexto. Juntamente com seus fiéis druguis Alex atua na região como um gangster que agride, estupra e vandaliza, atos por eles batizados de ultraviolência. Em um desses ataques, aos 15 anos Alex acaba preso. Já na prisão, o governo em uma tentativa de reintegrá-lo a sociedade acaba expondo Alex ao método Ludovico que consiste em combater a violência com violência (Mera coincidência aos dias atuais). O processo se baseia na exibição de imagens ultra violentas de tortura aos presos, entre elas algumas da segunda guerra mundial, somadas a aplicação de uma droga em seu organismo, enquanto música clássica ressoa no ambiente. Após as sessões Alex é considerado recuperado aos olhos do governo e volta a viver socialmente, mas percebe que o seu livre arbítrio lhe foi extraído. No decorrer da narrativa acompanhamos o amadurecimento de nosso protagonista e a forma com que ele passa a enxergar a realidade após todos os fatos. O livro além de uma linguagem própria chamada nadsat (mescla de palavras russas com inglesas britânicas), traz um contexto muito reflexivo, que me fez ter dor de cabeça e apelar para a dipirona. É fácil compreender que o livro narra uma sociedade moldada e manipulada pelo governo, algo também comum nas obras de George Orwell e Aldous Huxley, mas aliás ?O Que Deus quer? Será que Deus quer bondade ou a escolha da bondade? Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem Imposto a si? Sereis vós, Ó, meus irmãos, uma laranja mecanica?
?É melhor ser mal a partir do próprio livre-arbítrio do que ser bom por meio de lavagem cerebral científica? Anthony Burgees