Mateus.Caixeta 15/02/2024
"A Deusa em Chamas" se inspirou no final de Game of Thrones
Depois de muito tempo sem fazer resenha, vou abrir a porteira novamente pra comentar esse livro, que alugou um triplex na minha cabeça e me tirou o sono. [Aviso que é apenas a minha opinião, não uma verdade absoluta]. Também tentarei ao máximo não dar nenhum spoiler.
Já sabia que devia ler sem altas expectativas, e foi como eu li, de coração aberto ao que a autora tinha pra apresentar. E ela até consegue se manter na primeira parte do livro, o problema real mesmo é o resto dele. Gosto da escrita da Kuang, da forma como ela descreve a guerra na trilogia, é surreal de bem feito. Eu consigo sentir o impacto lendo, as mortes, as consequências, além da crítica que a autora faz com a nossa realidade. Nisso a autora se sai bem, é um baita ponto positivo, ainda mais com o tipo de narrativa que ela quer escrever.
A primeira parte consegue pegar no tranco rapidamente, já começa frenético, sem enrolação e consegue se manter por um bom tempo. Se o livro todo fosse apenas a parte I, eu daria em torno de 4 estrelas. O conflito apresentado, os dilemas dos personagens, assim como a forma que se resolve o conflito inicial, foi muito bom. A autora passa uma sensação de impotência que casa com a atmosfera do livro. A Rin nesse começo está decidida, impiedosa, tinha tudo pra continuar dessa forma até o final.
E é aqui que meus elogios ficam escassos, porque o resto do livro vai ladeira abaixo com força. A Parte II já começa com problemas, ali vi algumas inconsistências se formando.
Os personagens ficam estagnados nos mesmos problemas de sempre, não vai pra frente, não desenvolve. Fico impressionado o quanto todo o desenvolvimento da Rin no segundo livro, me pareceu ser jogado no lixo, a personagem fica extremamente burra, tudo isso pra continuar uma narrativa conveniente. Sei que tem pessoas que veem uma justificativa na Rin agir dessa forma, mas desculpa gente, não engoli. Chega um personagem X no livro, faz um PowerPoint pro que a Rin deve fazer, e ela simplesmente aceita e faz, 🤬 #$%!& que no outro livro ela queria matar o personagem X, isso não se aplica aqui.
E digo mais, todo o arco dessa segunda parte, poderia ser descartado e jogado no lixo. Desgostei desse miolo mais que o final do livro. Coitado dos personagens secundários, metade vai pra debaixo da escada, o resto fica girando em círculos nas mesmas questões. Nezha e Kitan, viram sombras do que eram antes, não se desenvolvem, só estão lá. A Venka então, coitada, até tem um diálogo ou outro, mas não vai muito além disso.
A repetição fica generalizada nesse último livro, repetição de narrativa, na forma como os personagens interagem e se comportam, a autora fica estagnada nisso. Odiei como ela foi nesse morde e assopra o livro inteiro. Uma hora a Rin estava se lascando, quase perdendo tudo, aí milagrosamente o jogo virava à favor dela (alguns momentos de forma forçada), depois dá tudo errado novamente, e assim vai até o final do livro. Não consigo enumerar o tanto que a autora faz isso, se fosse algumas vezes, tudo bem, MAS É O LIVRO TODO. Me tirou o impacto do que estava acontecendo, porque eu sabia que logo em seguida o jogo ia virar pra um lado. Não saia dessa sinuca de bico.
Uma parte que eu achei covarde, foi na parte II, onde a autora estava desenvolvendo certos personagens. Já não tinha gostado de como a autora começou esse enredo, a Rin aceita tudo muito fácil e simplesmente vai. Na hora, eu fiquei até ok com isso, a autora queria passar que era a única opção ali. Esse enredo dura praticamente 1/5 do livro, umas 100 páginas pra acontecer. Foi chato de ler, era um lenga-lenga sem fim, não via a hora de chegar logo no destino. Isso pra no final, a autora descartar tudo em 3 páginas. Não supero até agora que ela fez isso, li aquela parte toda pra que? Que finalização preguiçosa, se era pra acabar daquela forma, nem precisava ter se dado ao trabalho de colocar no livro.
Tanto que eu achei que os personagens iriam retornar pra alguma coisa, mas não, terminou de qualquer jeito mesmo ? poderia fazer a resenha só reclamando dessa parte.
A Rin recorre a outro plano "brilhante" pra conseguir vencer. E eu só me perguntava porque não tinha feito aquilo antes, pra que ter colocado todas aquelas páginas, se no fim ia dar no mesmo. Enfim né, só a autora sabe o que se passou na cabeça dela.
E mais um ponto negativo, foi o que a autora fez com os deuses. No primeiro livro os deuses era deidades, formas da natureza, e os humanos apenas serviam como uma canalização de poder desses deuses. A autora coloca isso muito bem no primeiro livro. Que no fim os humanos eram apenas brinquedos, usados da forma com os deuses queriam. E isso continua aqui, mas de uma forma muito subdesenvolvida. Os deuses me pareceram pokemons nesse último livro, simplesmente escolhe um e vai pra luta. As deidades que antes passavam imponência, mistério e caos. Agora ficam na sombra do que eram, parecem seguir sem questionar os humanos que detém seus poderes. Queria ver mais da relação da Fênix com a Rin, eu gosto da forma que as duas interagem e se complementam. Já as outras deidades... estão lá pra cumprir tabela, fazem o que tem que fazer pra fazer a narrativa andar e é isso.
Agora vou comentar do final, antes que essa resenha fique mais extensa. Tinha várias outros pontos pra comentar, mas vou parar por aqui. A Parte III até que se consegue entregar alguma coisa. Mas aqui a autora começa a apressar as coisas, se perde o impacto nas batalhas e principalmente no final. O conflito que se desenrolou o livro inteiro, foi broxante... estava indo bem, mas acaba muito rápido e sem muita ênfase. Está dando tudo errado e aí o jogo vira novamente. E nessa virada de jogo que a Kuang erra feio e erra com força. Tem uns 3 capítulo do pós batalha que eu adorei, foram um alívio pro livro, trouxe o que a história precisava desde o começo. Aí vem as últimas 50 páginas... e a Kuang termina de enterrar a história. A sensação foi similar ao final de Game of Thrones, ainda mais se comparar a Rin e Deanerys. Eu entendo a virada que a outra quis trazer, ainda digo que gostei das ideias que ela quis transmitir no final dessa trilogia. Mas foi tudo tão mal feito... A escrita dela nos últimos 10% despenca com violência, me senti lendo uma fanfic que um adolescente escreveu. Se ela tivesse pegado os outros 90% do livro pra fazer uma construção decente que chegasse nesse final, seria lindo. Eu entendo que assim como Deanerys, a Rin só tinha um tipo de final, que estava claro desde o final do primeiro livro. Mas foi mal construído, pareceu forçado, abrupto, feito as coxas pra finalizar. E o final de ambas as personagens não é ruim, mas a forma como tudo foi feito... isso sim foi ruim em tantos níveis diferentes. As mortes sem impacto nenhum, apressado, jogado, não senti nada com essas mortes, apenas um desperdício da forma que foi colocada.
Enfim, foi um final nada feliz, se alguém esperava isso, tire o cavalinho da chuva agora. Tinha tudo pra dar certo, mas infelizmente deu foi errado em vários sentidos.
Recomendo que leiam e tirem as próprias conclusões, é um final que vai dividir opiniões mesmo.