Thay262 21/11/2023
Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece: preferi o filme!
Confesso que quando adquiri, já sabia que o texto era em formato de peça. Porém pensava eu que haveria trechos não utilizados no filme, engano, o filme conseguiu construir bem a narrativa, deu vida aos protagonistas e até os fez melhores que no livro, acrescentou novas cenas e personagens brilhantemente, tanto quanto um romance.
Oque salvou minha leitura foi:
1) imaginar os atores enquanto lia, Matheus Nachtergaele (João Grilo) e Selton Mello (Chicó), com todo o tom de voz e o jeitinho que ambos expõe no filme.
2) todo o trecho do julgamento e da compadecida, que é bom no filme, e também interessante no livro, é o ponto alto do livro.
Conclusão: É melhor assistir, que ler essa peça. Mas isso não muda a fato de que Ariano Suassuna criou dois interessantes, e engraçados, trambiqueiros; João Grilo e Chicó. E mesmo que tenha feito isso em 1950, ambos ainda tem apelo, tanto quanto a trama parece simples, é, mas levanta muitos tópicos pra discussão.
Dá pra dar umas boas risadas com o livro, tanto quanto faz refletir em várias partes. O julgamento é sem sombra de dúvidas a melhor parte, e a mais reflexiva, de todo o livro.
É curtinho também, então dá pra ler numa só tardezinha. É pra quem tiver um tempinho livre, prefere ler do que ver, e não quiser se prender ao filme de 1h e 45 min.
Melhores frases:
"Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre".
"Sua obrigação era ser humilde, porque quanto mais alta é a função e o cargo, mais generosidade e virtude requer".
"Você é cheio de preconceitos de raça. Vim hoje assim de propósito, porque sabia que isso ia despertar comentários. Que vergonha! (...) Para mim, tanto faz um branco como um preto!".
"A carne implica essas coisas turvas e mesquinhas. Quase tudo o que eles faziam era por medo. Eu conheço isso, porque convivi com os homens: começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo".
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