Lauraa Machado 29/10/2017
Melhor que o primeiro
Estava lendo minha resenha do primeiro livro e percebi que quase não falei das coisas que gostei nele. E aí lembrei que é porque não gostei de nada, realmente, e sei que isso parece bem cruel da minha parte, principalmente porque tiveram várias coisas que não me incomodaram de verdade. O problema é que em nenhum momento eu criei uma conexão com elementos da história, me importei com eles etc. Sabe aquele apelo que até livros nem tão bons têm de vez em quando, que te fazem se apaixonar por eles e nem se importar se eles são mesmo "bem escritos" ou "bem desenvolvidos"? Até eu sinto isso às vezes, até eu me apaixono por livros que eu sei que são mais toscos, mas que têm apelo, que têm um atrativo. E isso faltou demais para mim nesses livros.
Esse segundo é bem melhor que o primeiro, tem muito mais revelações, muitas cenas mais críticas e momentos decisivos. Mas eu ainda sinto que ele deixa a desejar, que promete muito mais do que entrega. Parece que ele fica quase o tempo todo no mundo das ideias e quase nada vira algo concreto. E, quando vira, sempre dá a impressão de que é tarde demais e que já não importa. É bem estranho, sério, como tudo parece decisivo e impassível (eu ainda não sei o que faria em nenhum momento), mas no final as consequências são sempre meio leves ou quase inexistentes. Tem suas explicações, mas mesmo assim.
Não quero que nenhum possível leitor pense que esse livro é ruim, não é isso. Ele é muito bom, na verdade. Minha nota verdadeira é 3,5, mas ele compensa várias falhas do primeiro. Por exemplo, suas cenas são mais completas, nenhuma é vazia como no outro livro. A protagonista, Kyla, questiona quase tudo nesse, o que é bom. Mas o livro ainda tem seus defeitos.
Por exemplo, ela questiona QUASE tudo. E o que ela não questiona é gritante para alguém que estava pensando desde o primeiro livro em não confiar em ninguém e para alguém que passa pelo que ela passa nesse. Aliás, desde o começo da trilogia, eu estava esperando uma super virada, uma super emboscada, uma traição terrível. E, mesmo quando "teve" (aspas, porque, né, depende muito da sua concepção), o potencial da ideia ainda não foi aproveitado. Existe muita complexidade nas questões interpessoais, mas pouquíssimas nas de enredo.
Outro problema que eu vejo com a história é imaginar como ela vai se desenvolver no próximo livro. Isso é uma coisa que acontece demais com trilogias distópicas, o autor vai desenvolvendo a história como quer e acaba percebendo que não dá tempo de acabar de um jeito completo. Normalmente, eles fazem uma de duas coisas: ou acabam incompleto, com poucos detalhes e longe de resolver a distopia (trilogia Delírio - que eu amo) ou correm com os últimos acontecimentos (Jogos Vorazes, que também amo). Eu sou bem mais a favor de escreverem um quarto livro ou fazerem o terceiro ser enorme (como na trilogia Feita de Fumaça e Osso, que é simplesmente maravilhosa, mas não é distopia).
Esse segundo livro, apesar de ter sido bem melhor, não desenvolveu o suficiente para o último ter a sensação de finalização. Na verdade, estou me sentindo mais ou menos no mesmo lugar em que comecei na trilogia. Acho que a história desse deveria estar no primeiro, que o primeiro deveria ter sido resumido e acrescentado essa parte de algum jeito. Não consigo imaginar como a autora vai conseguir subir o nível para o último - ou ao menos fazer toda a leitura até lá valer a pena.
Mas talvez a culpa seja minha. Eu já li algumas trilogias distópicas que se desenvolveram muito melhor e posso estar comparando demais. Principalmente com a duologia Disruption, que já deveria ter sido lançada aqui no Brasil, porque é muito boa e é tudo que eu queria que essa trilogia fosse (até falei dela na resenha do primeiro).
Como esse livro está longe de ser perfeito, eu não poderia dar nota cinco e teria dado quatro se não fosse por aquilo que falei no começo. Mesmo nas suas melhores partes, falta alguma coisa. Não é a protagonista, que é mais do que razoável. Acho que a história simplesmente não é divertida o suficiente para eu querer passar horas lendo; ou tensa o bastante para eu não conseguir largar. Apesar de ter várias questões e uma falta de saída um pouco assustadora em alguns momentos, acho que o problema todo é amplo demais para eu, como leitora, ter procurado aquela específica salvação ou uma solução clara. Não estou torcendo para que aconteça nada em específico, porque tudo fica muito em aberto. Falta uma luz guia, um propósito.
Ou pelo menos uma leitura mais divertida.
Em compensação, o livro é fácil e rápido de ler e eu ainda recomendo a leitura, já que acredito completamente que sua experiência vai depender dos outros livros que você já leu, do quanto é crítico (eu sou e muito!) e, é claro, das suas expectativas.