jiangslore 14/01/2021
Vamos começar pelo que eu gostei: o universo do livro é interessante, detalhado e muido bem construído, e a universidade é especialmente incrível; a escrita, apesar de excessivamente dramática em alguns momentos, é boa; as transições entre passado e presente são naturais, fluidas e bem feitas; alguns dos personagens secundários são bem interessantes.
Em geral, acredito que o autor foi bem sucedido em fazer o que ele se propôs a fazer. Isso é ótimo. E, aparentemente, ele demorou dez anos para escrever esse livro, então não posso deixar de elogiar seu esforço e dedicação à história que ele criou.
Bom. Os pontos positivos são esses. Agora vamos ao que eu não gostei no livro.
Começando por Kvothe: vi algumas resenhas nas quais ele é descrito como "uma versão masculina de uma Mary Sue", e, bem... Não acho que essa definição esteja completamente errada. Kvothe consegue ser incrível em tudo que ele faz. É extremamente inteligente e esperto, é um músico muito talentoso, sabe atuar maravilhosamente bem. Claro, tudo isso faz sentido dentro da história, porque são características atribuídas à criação dele, mas continuam sendo qualidades que criam um personagem que é, basicamente, perfeito. E não tem nada mais chato que um protagonista perfeito.
Mesmo quando ele falha em algo, a forma como ele e outros personagens reagem ao erro faz parecer que, no fundo, ele foi um acerto. Sei que essa frase não deve fazer muito sentido, mas estou tentando explicar o suficiente sem ser muito específica porque quero evitar spoilers.
Na minha opinião, uma das maiores provas de que o Kvothe não é um personagem com falhas suficientes é o fato de que as verdadeiras dificuldades que ele enfrenta no enredo são referentes às circunstâncias as quais ele é exposto (pobreza, principalmente), e não à algum defeito interno que ele possua.
Ah, além disso, ele é lindo. Ele tem cabelo ruivo, o que, muitas vezes, é uma característica usada para que um personagem em um livro de fantasia seja "esquisito" e "diferente" para as pessoas de seu mundo, mas atraente e suficientemente dentro dos padrões para os leitores contemporâneos do nosso mundo. E ele têm olhos muito verdes, também, que mudam de tom de acordo com o humor dele (um trope que, na minha opinião, sem que ser morto e enterrado).
E, claro, as mulheres caem encima dele, mas ele é completamente cego aos avanços de todas, a não ser de seu par romântico (pessoalmente, acho isso hilário, porque é o aspecto mais "Mary Sue" que ele tem, na minha opinião).
A única coisa que me dá esperança com relação ao Kvothe é a possibilidade da "perfeição" dele mudar nos próximos volumes da trilogia. A perspectiva da decadência do personagem, que é algo indicado pelo Kvothe do presente, é o que me faz pensar que ele pode se tornar interessante.
Agora, vamos ao segundo ponto que não gostei: as mulheres do livro. O problema começa quando você percebe que quase não há mulheres. E aí ele continua quando você percebe que elas são basicamente um acessório do personagem principal.
O incrível do livro é que todas as personagens femininas são jovens, todas são lindas e quase todas tem algum nível de interesse em Kvothe. Mas, como eu disse antes, ele só tem interesse em uma delas, porque ela era diferente de todas as outras mulheres.
Ou seja: não basta o Kvothe ser um clichê e uma idealização masculina ambulante, o par romântico dele basicamente é uma garota que Não é Como as Outras Garotas?. Pelo menos não dá para dizer que eles não combinam um com o outro.
Infelizmente, ao contrário do primeiro aspecto negativo que comentei (a personalidade "perfeita" de Kvothe), não tenho esperanças de melhora quanto à forma que mulheres são retratadas nos próximos volumes da trilogia. Mas eu sou teimosa e curiosa, então não acho que essa impressão vai me impedir de, pelo menos, tentar ler o segundo volume.