Samuel M de Paula 04/01/2021
Cada conto um abraço
Eduardo Galeano diz que “a memória viva nasce a cada dia” e é isso que ele procura fazer nessa obra como em muitos livros de sua autoria. Galeano mais uma vez transcende os gêneros ortodoxos, combinando jornalismo, ficção, análise política e História. Logo nos primeiros relatos o leitor descobre o sentido do título, o qual não está escrito em palavras, mas se faz presente por um sentimento de amizade como se estivesse contando pessoalmente cada história e no final de cada, desse um abraço. Nesta obra somos apresentados a relatos de muitas de suas andanças pela América Latina, alguns presenciados pessoalmente e outros descritos pelos seus vários amigos, amigos esses também são grandes representantes da literatura latina e nacional de seus países.
Mais uma vez, minha leitura dessa obra se iniciou após a indicação da minha querida amiga Ísis Demarchi, confesso que pouco tenho lido nessa em minha pouca idade autores latinos que não fossem brasileiros, mas tenho conhecimento por nome de muitos autores e um deles era Eduardo Galeano.
As 272 páginas passam voando, pois entre curtas histórias, várias representações ilustradas se fazem presente, diria que mais de 100 páginas. Galeano nos induz de leituras inicialmente ingênuas que aos poucos vão se tornando fantásticas e absurdas, prosaica e protestante. Com isso, nossos olhos são abertos para os casos de restrição da liberdade, causados pelas inúmeras ditaduras na América Latina; de sonhos desperdiçados; do cotidiano e do extraordinário; de política e de amor; de tormentos e ternuras; de fomes e dores.
Com calma nos é requerida, da inquietação que é incitada inicialmente pela falta de contextualização, somos aos poucos levados a cenários, personagens, criaturas místicas e fábulas que se irrompem; no final, os amigos de Galeano se tornam também nossos amigos. Histórias agradáveis são juntas nesse livro de modo despretensioso, mas que resgata a grandeza dos detalhes da vida.
O Livro dos Abraços traz beleza e emoção em suas páginas, uma obra que se deve ter cuidado em manusear, pois é delicada e afiada como a própria vida. Uma leitura que não se esgota e falta razão para parar, apesar de banal se pensarmos pequeno, mas que como a própria vida, vale a pena.