Alê | @alexandrejjr 27/09/2020
Atenção passageira
Sim, mais um livro sobre a difícil vida dos escritores. Em "A uruguaia", no entanto, nada de discussões a respeito do papel da escrita ou da importância da literatura. Pedro Mairal quer apenas levar os leitores em uma breve viagem, zero compromissos. É a leveza sem grandes pretensões, portanto.
Acompanhar um período da vida de Lucas Pereyra, nosso narrador-escritor, vai gerar boas risadas. O texto, sem grandes dificuldades e com uma linguagem simples e extremamente contemporânea, quer que você entre nas peripécias desse homem branco sul-americano, que conheça seus perrengues no curto período narrado. Além disso, você vai poder entender de perto as reclamações mundanas de Lucas, suas agruras envolvendo as relações com mulheres e sua dependência financeira para realizar o ofício ao qual foi destinado. Não, se você é daqueles que pretende ser desafiado como leitor, que preza pelos grandes temas que instigam há séculos a humanidade, que busca um pouco de filosofia para fugir do dia a dia ou ainda uma visão particular mais aguçada sobre quaisquer temas que lhe interessem, este definitivamente não é o seu livro.
A leitura, apesar de rápida e fluída, é bem mediana. Não temos aqui uma grande estória a ser contada, nada de cenas memoráveis. Na verdade, é o livro do esquecimento, pois você não vai se lembrar dele assim que pegar um livro marcante, ainda mais se for na sequência. Não há aqui aquela ambição que envolve certos escritores da atualidade, há apenas a banalidade de uma história e suas personagens. Mas calma, não é só de porrada que vou fazer este texto.
Uma das poucas forças da escrita de Mairal reside em sua habilidade descritiva inegável dos lugares em que coloca suas personagens, fazendo com que os leitores se desloquem entre Buenos Aires e Montevidéu. Além disso, pequenas pitadas sobre seus heróis literários são oferecidas, quando faz alusão, por exemplo, à Jorge Luis Borges, com direito a uma análise de estrofes de um poema do mestre argentino por sua personagem principal, parte interessante que foge do enredo principal. Há ainda investidas com profundidade em alguns temas que são até satisfatórias, como a passagem sobre filhos. São sementes daquilo em que o romance poderia ter avançado, daquilo que poderia ter sido.
Preciso salientar aqui mais uma vez que, apesar da narrativa deslizar facilmente pelos olhos, por vezes ela é, paradoxalmente, truncada devido à pontuação mal executada em algumas partes. "A uruguaia" se encaixa na vala comum da nossa atual produção literária. É apenas mais um entre tantos e pouco tem a oferecer de novo a leitores levemente exigentes. Infelizmente, a minha indiferença com este romance vai pesar na hora de voltar aos escritos de Mairal, caso isso aconteça.