Resenhas - Mary Ventura e o nono reino

Toni 12/11/2019

É preciso prestar atenção redobrada em narrativas que se passam quase inteiramente no interior de trens, navios, aviões, ônibus etc (meios de transporte em movimento, vocês entenderam). Como uma espécie de inversão da lógica arquetípica da “jornada do herói”, os protagonistas dessas narrativas encontram-se como que suspensos, ainda que saibamos que estejam se dirigindo a algum destino. Desprovidas de qualquer poder sobre o trajeto, as personagens se põem a pensar sobre o futuro que as aguarda, a observar a paisagem, a lembrar da trajetória que as trouxe até ali, a conversar com os companheiros de viagem. Não raro, a “trégua” representada pelo deslocamento se transforma em oportunidade para uma mirada interior. 📖

É nesse processo de olhar para dentro de si que a ficção opera sua mágica. Mais que qualquer outro tema ficcional, narrativas de viagem são a manifestação literal daquela velha máxima existencialista: o trajeto é sempre mais importante que o destino. No entanto, quando nem o trajeto nem o destino foram decididos por quem empreende a jornada, como é possível romper com os mecanismos inexoráveis do tempo e das estruturas coercitivas (família, trabalho, religião)? Este “conto rejeitado” de Sylvia Plath, escrito aos 20 anos, tem uma viagem de trem como lugar simbólico da pergunta acima, alegoricamente urdida em detalhes às vezes sutis, às vezes escancaradamente didáticos. 📖

Como toda fábula, o texto de Plath comporta várias leituras, da análise mórbida à interpretação libertária, e deve ser um verdadeiro prazer trabalhá-lo em sala de aula. Não fosse um livrinho de bolso com preço tão salgado (capa dura, 48 p., sem gravuras), seria daqueles que eu sairia distribuindo para sobrinhos, alunos e outros mundos de afeto, para lembrar a todas e todos que não há lição mais importante do que criar nosso próprio caminho. .
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crfbordersz 11/01/2024

?? Mas você não entende ? o rosto de Mary se vincou e ela começou a chorar. Lágrimas encharcadas e escaldantes escorreram entre seus dedos. ? Você não entende. Não é culpa minha estar neste trem. É dos meus pais. Eles queriam que eu viesse.

? No entanto, você deixou que comprassem o bilhete para você ? continuou a mulher. ? Você permitiu que te colocassem neste trem, não foi? E aceitou sem se rebelar.?

Clau 19/03/2021

@claueseuslivros
O que foi isso? Não imaginei que ia terminar o conto com mais perguntas de que quando comecei! Fui atrás de algumas resenhas, mas ninguém falou coisa com coisa, então aqui vai minhas formulações: esse conto é sobre a vida, mas não necessariamente sobre decisões; acredito que o conto não teria uma atmosfera tão sombria se fosse apenas isso: não saber tomar decisões. Descobri que Plath tentou suicídio pela primeira vez poucos meses depois de escrever esse conto e penso que isso não pode ser ignorado em sua escrita. Talvez aqui seja sua tentativa de dizer que se sente indiferente em relação aos outros ao seu redor, que ela vê que as outras pessoas vivem suas vidas em um estado apático e permissivo, sem necessariamente se importar com o que fazem. E isso pode ser exemplificado pela forma que Mary Ventura enxerga os outros passageiros como ?entediados, cadavéricos, impessoais?. E essa fuga do trem, esse desespero que despertou dentro de Mary durante a viagem, é sua tentativa de escapatória de uma vida que não lhe faz sentido e não lhe traz um propósito. O que ela estaria fazendo naquele trem? Ela não estava em um transe igual aos outros passageiros, ela não era como eles. Então, ao passar por um caminho insalubre e escuro, Mary finalmente desponta em uma nova realidade, cheia de vida e luz. E, posso estar totalmente errada, mas poderia muito bem ser uma alegoria à ?luz no fim do túnel?, a passagem para um novo mundo, o jardim do paraíso, a paz de espírito que Mary/Plath tanto desejava.

Mila 08/11/2023

Metáfora sombria
Mary Ventura e o nono reino pode ser bem confuso se você "cai de paraquedas" no mundo (e na cabeça) de Sylvia Plath. Porém, se você tiver o mínimo de conhecimento da vida e de outras obras da autora, vai conseguir entender melhor.

A história se passa em uma viagem de trem onde o nono reino é a última estação de onde ninguém volta. Ficou bem claro pra mim que a autoria referia-se a m0rte como o nono reino e que a viagem de trem seria sua partida (Plath escreveu esse livro aos vinte e poucos após sua primeira tentativa de su1c1di0).

Me compareço muito pela história de vida da Sylvia. A entendo completamente e senti de uma forma fúnebre e sombria essa história.

pagina_liter 16/01/2024

Impressionante como esse curtíssimo conto deixa tudo nas entrelinhas de sua narrativa sombria e lúgubre. O leitor tem que ir captando as nuances que a autora vai jogando nas frases, para assim chegar a uma conclusão do que seria esse tal nono reino. O que ele realmente vai acabar descobrindo, mesmo para quem nunca leu A divina comédia vai saber que Sylvia se refere ao nono reino como sendo a morte, ficou tudo muito claro pra mim depois que lembrei da leitura de A divina comédia. Onde o nono círculo é o fim da linha.
Basicamente uma recontagem curtíssima, mas sensacional da enorme jornada de Dante, personagem principal do livro A divina comédia de Dante Alighieri.

mariasbookdrama 05/03/2022

Leitura super rápida, sombria e impactante... Fazem horas que terminei e sigo refletindo sobre ela aqui

Anna:) 30/12/2022

Finalizando o ano com esse livro curtinho dessa autora q eu amo tanto! Amei a história dele e o significado da história, eu entendi q a história girou entorno da recusa da protagonista de continuar fazendo oq seus pais queriam e de seguir oq ela n queria. Gostei muito dele

Evelyn 31/05/2022

Impossìvel parar uma vez que você começa
A edição é linda e de muito bom gosto, por si só já agrada os olhos. Mas o conteúdo é inimaginavelmente maravilhoso! É um livro curto (um conto?) no qual conhecemos Mary sendo colocada em uma viagem de trem pelos pais, no trem, ela conhece uma mulher que senta ao seu lado e logo na terceira página já é impossível largar o livro.


Por ser curto, tem poucos detalhes, sendo assim, nossa imaginação é obrigada a funcionar para compor o cenário e fazer novas interpretações a cada página. É uma leitura muito gostosa ao mesmo tempo que é profunda.

Fala sobre morte, amadurecimento, escolhas e consequências, relação pais-filhos, destino e controle da própria vida. Como cabe tudo em pouco mais de 50 páginas? É uma obra de arte.

Cintia.PrAspero 13/02/2020

Uma fábula sombria, incomoda e faz pensar!

caroline sn 07/04/2023

Sylvia Plath sabe conduzir a narrativa muito bem, a gente fica completamente instigada em querer saber o que vai acontecer. Uma história alegórica e metafórica sobre o que está no próprio texto: destino. No caso de Mary Ventura, um destino traçado pelos pais, que ela teve de enfrentar para tomar as rédeas da sua liberdade.

Elis133 12/07/2023

Sylvia com y
A leitura é bem rápida pois o livro é curto. Mas a impressão é longa, pois para quem conhece a história da Sylvia Plath, sabe que não vai "dar bom". Porém o final é feliz e metafórico.

lore 12/07/2023

Eu achei simplesmente incrível o jeito que a autora desenvolveu a história, a escrita é super rápido e fluída. Fiquei aflita pela Mary o tempo inteiro, no começo achei que a viagem levaria ao destino que seria a morte mas depois pensando melhor pra mim a melhor interpretação seria o caminho até o amadurecimento, pelo fato dos pais terem sidos tão indiferentes na despedida, as pessoas no trem apáticas e indiferentes representando a vida real e a senhora que vai ao lado da Mary seria esse choque de realidade. Um texto simples mas com reflexões muito fortes e em certos pontos bem melancólicos. No final do livro ela encontra com uma mulher e ela diz que estava esperando pela Mary, eu interpretei como sendo a chegada na vida adulta, porém o livro da margem para diversas interpretações.

Mary Maia 27/05/2023

Conto "sinistro"
Minha primeira leitura da autora começa com o pé direito.
Um conto, uma viagem para um lugar desconhecido, com pessoas esquisitas e uma luz no final do túnel (...)
Será possível?
Gostei da experiência.