Thalia58 27/12/2023
Uma leitura visceral e desesperadora, mas que vale a pena
Esse foi o meu primeiro contato com o autor e consegui entender porque o livro é tão aclamado. Tem como premissa a pergunta: E se todos ficassem cegos? A história conta sobre os efeitos de uma epidemia de cegueira branca sobre a sociedade (chamada assim porque de repente a pessoa não consegue ver e fica tudo branco).
O livro mostra como o ser humano é quando se retira conceitos como ética, bem e mal, certo e errado (construções que perderam seu significado nessa sociedade) e precisa se valer apenas dos seus instintos, É uma história visceral que traz muita aflição, pânico, medo, terror e o autor faz com que você se sinta parte de tudo o que está acontecendo. Quando você pensa que não tem como piorar, as situações pioram.
Aborda temas como fome, violência, podridão, abusos sexuais, totalitarismo. Nessa sociedade acometida pela epidemia, já não é possível produzir alimentos ou qualquer outro tipo de material, objetos, entretenimento, as pessoas não conseguem mais voltar para suas casas, não existe mais saneamento básico, tudo vira um caos. E mesmo com uma situação tão extrema, muitas pessoas tiram vantagem das outras ao invés de tentarem se ajudar.
Apenas uma pessoa não sofre com a cegueira branca, a esposa de um médico que tenta auxiliar seu grupo da maneira como pode sem indicar que ainda consegue ver. Na minha opinião ela é uma das personagens mais sofridas que consegue ver todas as situações desesperadoras sem conseguir fazer nada. Sem dúvida, é a minha personagem favorita porque mesmo com essa vantagem, ela não explora as outras pessoas e faz de tudo pra ajudar o seu grupo.
Em um ponto da história, no começo da epidemia as pessoas que tem essa cegueira branca são levadas para um antigo sanatório para ficarem em quarentena, e é nesse lugar que muitas das coisas horríveis acontecem, principalmente quando a população desse lugar aumenta além da capacidade. E as mulheres, como sempre na sociedade, são as que sofrem mais com a situação. É quase um experimento do que acontece quando muitas pessoas são confinadas em um lugar com poucos recursos para sobreviver.
O autor não especifica um local e um período em que a história se passa dando a sensação de que poderia acontecer em qualquer lugar do mundo. Um outro aspecto que reforça a perca da humanidade é o fato dos personagens não terem nomes, são citados com referências, como por exemplo, a mulher do médico.
Na minha opinião, essa cegueira que o autor expõe no livro, já existe na nossa sociedade, é não querer ver as coisas como são de fato, é não ter empatia pela dor do outro
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”
É um livro atemporal e que se tornou bem significativo se levarmos em conta o período de pandemia que vivenciamos há alguns anos e quantas pessoas morreram por causa dela e por causa de um governo ineficiente.
Recomendo fortemente a leitura, só tenha em mente que tem muitas situações difíceis de se ler, então escolha bem o momento de ler o livro.
Nas palavras do próprio autor: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."