Sarah 26/05/2021
Olga >>>>>>>> Irina
Lara Prescott claramente tem uma ligação pessoal com Boris Pasternak, começando já por seu nome (sendo Lara também a personagem na magnum opus do autor) e isso tanto é bom, quanto a atrapalha um pouco. Ela investe muito para contar a história da Olga, a amante de Boris e musa inspiradora, descrevendo seus sentimentos, aflições, apenas possibilidades, é claro, mas que me pareceram muito palpáveis. Ao mesmo tempo, acho que investe de menos na história de fora da Rússia, Irina, uma americana de descendência russa; por muitas vezes senti as coisas um tanto apressadas, passageiras, não sei quem - eu ou a autora - estava mais ansiosa para retornar para a história de Olga. Lara faz uma descrição minusciosa, dolorosa também da estadia da Olga na gulag, de sua volta para casa, depois de tantos anos e ainda tendo de lidar com os olhares e também a sua força para enfrentar a perseguição que viria por causa de Doutor Jivago. De dentro da URSS apenas temos narrações de Olga ou algumas poucas de Boris, e é o suficiente para entender, ou imaginar, o que foi a relação dos dois (embora, particularmente eu ache vergonhoso que Pasternak tenha colocado a esposa nessa posição, e também que Olga, que embora muito importante na vida pessoal e profissional do autor, ainda assim nunca elevou seu status, sendo eternamente a outra; e aceitando isso). Na América, nós temos uma narração um tanto dividida entre Irina, Sally (a mentora) e Teddy (o namorado), ao mesmo tempo que temos capítulos denominados "as datilógrafas" que são capítulos escrito na primeira pessoal do plural de maneira super interessante, é como um folhetim de fofoca (tô rindo, mas tô falando sério), tem muitas informações pra contextualizar os momentos da história, ao mesmo tempo que também desenvolve as colegas de trabalho de Irina. E aí, eu falei que esse amor à Doutor Jivago atrapalha um pouco a autora, pois dentro da narrativa ela tenta desenvolver acontecimentos secundários, mas que ficam mal explorados por causa da correria da narrativa (como a perseguição à comunidade LGBTQ+, que parece que vai ser importante, mas toma um espaço pequeno até na história).
E o capítulo final com as datilógrafas falando de como é a vida delas agora, na era digital também foi fofa, engraçadinha. E ainda mantém o ar da fofoca edificante - "eram elas?".