@raissa.reads 17/03/2024
Herdeiras Do Mar, mais do que uma ficção histórica, é uma denúncia detalhada sobre a crueldade e crimes hediondos que meninas e mulheres sofreram e sofrem nas guerras. E uma tentativa por não ser silenciada e nem esquecida a história das mulheres durante esse período escuro na Coreia.
Os historiadores estimam que cerca de 200.000 mulheres asiáticas foram sequestradas, enganadas e vendidas como escravas sexuais pelos militares japoneses durante o período de expansão japonesa. Muitas dessas mulheres e meninas jamais voltaram para suas casa, e suas famílias nunca souberam o que aconteceu com elas.
Esse livro se basea em fatos históricos da colonização da coreia pelo japão. Ele tem capítulos intercalados entre o passado (1943) e o presente (2011), narrados por Emy e Hana, irmãs sul coreanas da ilha de jeju. Elas eram Haenyeo, uma tradição semi-matriarcal de mulheres mergulhadoras - Mulheres de espírito independente, fortes e guerreras que se arriscavam mergulhando em águas profundas, contando apenas com o ar de seus pulmões. O motivo dessa atividade era a busca de frutos do mar para vender no mercado e para alimentar suas famílias.
Nesse livro, temos duas histórias que acontecem paralelamente e começam exatamente no momento de separação das duas, quando Hana é retirada brutalmente pelo exército japonês para proteger sua irmã Emy e servir como “mulher de consolo”, que nada mais eram do que escravas sexuais.
Em contra partida, temos a visão de Emy já idosa em 2011, que nunca reencontrou sua irmã. E por já sabermos que Hana nunca voltou pra casa ficamos mais curiosa pela história de 1943, e como ela iria se desencadear.
Também é um livro que nos mostra como foram esse entes que perderam suas meninas/mulheres para a guerra e como eram aquelas que conseguiam retornar - As mulheres que sobreviveram à sua escravidão não tiveram a liberdade de contar sua história quando voltaram para casa. A Coreia era uma sociedade patriarcal e a "pureza" de uma mulher era de suma importância. As sobreviventes sofreram com seu passado em silêncio. Muitas foram incapazes de se reintegrar à sociedade.
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Acompanhamos a jornada de Hana, nesse caminho a se tornar mulher de consolo nos minimos detalhes. A personagem encara um período triste e violento em sua vida. A leitura é muito sofrida, muito mesmo. Mas mesmo assim a história e a força da personagem nos mantem querendo ler e entender o que está por vir.
Foi um livro pesado, dolorido, sofrido em pensar que até hoje as sobreviventes desse período lutam para que os crimes sejam reconhecidos pelo governo Japonês. Em pensar que Hana não conseguiu dar adeus a sua família e que Emy nunca soube o que aconteceu depois de sua irmã ter sido sequestrada.
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