Jaqueline 03/03/2017Fica o aviso para quem é fã da obra de Ken Follett como eu: este não é o melhor trabalho do escritor. Ainda assim, é um romance acima da média, com um enredo envolvente e personagens bem explorados pelo escritor.
“Noite sobre as Águas” é um thriller simples e envolvente que conta a história do último voo civil a sair da Europa após a declaração do conflito entre Inglaterra e Alemanha em 1939. Durante as 36 horas de voo com destino à Nova York, pessoas dos mais diversos meios sociais, todas elas fugindo dos seus passados, terão que lidar com imprevistos, complôs, traições e alianças que podem mudar para sempre suas vidas.
Uma das características que mais aprecio no trabalho de Follett é sua capacidade de apresentar uma ampla gama de posicionamentos morais e políticos sem cair no didatismo ou na previsibilidade. Isso torna a narrativa dos seus livros bastante dinâmica, com cenários bem construídos e personagens circulares, que surpreendem por suas atitudes diante de situações inusitadas. Ainda que praticamente toda a história de “Noite...” se desenrole dentro de um hidroavião de luxo, com um número limitado de passageiros e tripulantes, é possível entender direitinho como a Segunda Guerra afeta cada personagem, desde um cientista judeu e uma estonteante estrela do cinema até um ladrãozinho sedutor e uma jovem idealista frustrada com o autoritarismo fascista do pai. Essa diversificada gama de personagens, assim como o detalhismo das descrições (que não é exagerado, mas surge na medida para nos ajudar a imaginar os cenários propostos pelo autor), são os pontos fortes do livro.
Ainda que certas situações parecessem inverossímeis e com soluções extremamente mirabolantes, como a trama do engenheiro de voo que acaba envolvido com terríveis mafiosos, as emoções evocadas pelo autor legitimam as ações dos personagens de forma humanizada, carnal, quase que instintiva. Atravessando o Oceano Atlântico rumo ao “Novo Mundo” eles traçam novos planos e rotas em um mundo em constante mudança, onde todas as certezas parecem questionáveis. Conforme a sinopse do livro nos diz, nesse voo de luxo temos o melhor e o pior da humanidade. Como as aparências enganam, acabamos surpreendidos por pequenas revelações que surgem de quando em quando na história, e isso mantém o leitor entretido com a história.
Por fim, falando como fã, gostaria de ressaltar também o bonito trabalho da editora Arqueiro, que vem publicando reedições e obras inéditas do autor aqui no Brasil com grande capricho no texto e na diagramação do livro.